Woody Allen
O chefão
Estava sentado no meu escritório, a limpar o lixo do meu 38 e a matutar sobre quando chegaria o próximo caso. Gosto de ser detective privado e apesar de, de vez em quando, ter as gengivas massajadas com uma chave de rodas de
automóvel , o doce cheiro das notas de banco faz com que tudo valha a pena. Para já não falar das pequenas, uma preocupação menor para mim, que a coloco logo à frente do acto de respirar. Eis porque, quando a porta do escritório se abriu e uma loira de cabelos compridos chamada Heather Butkiss entrou a passos largos e me contou que era modelo de nus e precisava do meu auxílio, as minhas glândulas salivares engataram em terceira. Ela trazia uma saia muito curta e uma blusa justa e o corpo descrevia uma série de parábolas que teriam produzido uma paragem cardíaca num yak.
- O que posso fazer por si, doçura?
- Quero que me encontre uma pessoa.
_ Uma pessoa que desapareceu? Já tentou a polícia?
- Não exactamente, senhor Lupowitz.
- Chame-me Kaiser, doçura. Está bem, qual é galho?
- Deus.
- Deus?
- Exactamente, Deus. O Criador, o Príncipe Subjacente, a Causa Primeira das
Coisas, O Vigia Universal. Quero que O encontre.
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Para Acabar de Vez com a Cultura
Woody Allen
Livraria Bertrand
Etiquetas: literatura
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