domingo, 28 de março de 2010

Nuno Artur Silva

"Bruscamente a tarde tem aclarado
Porque já cai a chuva minuciosa.
Cai ou caiu. A chuva é uma coisa
Que sem dúvida sucede no passado."
Jorge Luís Borges

I

Algo entre a lua e a manhã - o teu corpo?
O meu segredo.
Imperceptível, o mar, noite após noite, inunda-me o corpo.
Um barco atravessa o outono. E é o longínquo tactear o teu
nome.

II

A chuva, outra vez, a chuva - tu dizias - a chuva.
E já não há espaço para a nossa nudez. Já não há que não o
mar.
O esquecido coração. O crepúsculo entreaberto. O meu
corpo?
Há ainda a chuva, a chuva - tu dizias - a chuva.
Vestígio de uma ave que se perdeu no teu corpo - a ferida do
meu corpo.

III

A chuva é onde acordo sem
o teu corpo. É quando a noite
não existe mais a não ser através
da memória: cidadela
por onde soa o coração.


Nuno Artur Silva
Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa
Coordenação de Pedro Mexia
O Contador de Histórias
Câmara Municipal de Tomar
1997

Etiquetas:

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial