sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A realidade é real?





8. O "Experimentador Divino"


O Mistério dos Pára-Brisas

No final da década de cinquenta, a cidade de Seattle
foi presa de um estranho fenómeno: os pára-brisas de
um número crescente
de carros apareciam marcados com pequenas cicatrizes
em forma dentada. A situação tornou-se tão séria que,
a pedido do governador, o presidente Eisenhwoer enviou
uma equipa de técnicos do National Bureau of Standards
para investigar o mistério. Para citar Don D. Jackson,
fundador e primeiro director do Instituto de Investigação
Mental de Palo Alto:
[Eles] encontraram rapidamente duas teorias espalhadas
para explicar a causa das marcas. Os teóricos da
«poeira radioactiva»insistiam que os recentes
testes atómicos feitos pelos russos tinham contaminado
a atmosfera, o que, ajudado pelo clima húmido de Seattle,
produzira uma poeira radioactiva que estava a regressar
à terra em forma de chuva que fazia com que os vidros
estalassem. Os teóricos «macadame» insistiam que o
programa de auto-estradas do ambicioso governador Rosollini
estava a produzir inúmeras faixas de estradas recentemente
macadamizadas. Essas estradas, mais uma vez com a ajuda do
nevoeiro muito húmido, salpicavam gotas ácida contra os
ditos pára-brisas.
Em vez de investigar qualquer uma destas teorias, os
técnicos desviaram a sua atenção (graças a Deus) para
um problema mais primário. Provaram que não havia
qualquer aumento de marcas nos pára-brisas em Seattle.
O que acontecera fora uma espécie de histeria de massas:
à medida que os relatórios de marcas nos pára-brisas
foram chamando a atenção de cada vez mais gente, essas
pessoas começaram a investigar os seus próprios carros.
A maioria olhou de perto para o vidro do lado de fora em
vez de o fazer, como é costume, de dentro para fora.
Foi assim que descobriram as marcas que são
quase sempre causadas pelo uso normal. O que explodira em
Seattle fora uma epidemia, não de marcas nos pára-brisas
mas de observação dos pára-brisas.
Mais uma vez, um fenómeno menor, perfeitamente natural
(tão natural que ninguém tinha reparado nele antes)
foi subitamente associaado a questões fortemente
emocionais (a «poeira radioactiva» soviética e
um programa de construção de estradas questionável
do ponto de vista ecológico) e que pela sua própria
força alcançou proporções que cada vez mais
convenciam as pessoas.
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Paul Watzlawwick
A Realidade é Real
Relógio d´Água

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