domingo, 10 de janeiro de 2010

Gabriela Mistral

CANTO QUE AMAVAS

Canto o que tu amavas, minha vida,
porque vens e me escutas, minha vida,
porque lembras o mundo em que viveste,
canto ao cair da tarde, minha sombra.

Não quero emudecer, ó minha vida.
Como sem este grito me acharias ?
Que sinal me declara, minha vida?

Eu sou a que foi tua, minha vida.
Nem esquecida, nem lenta, nem perdida.
Vem ao cair da noite, minha vida,
vem e recorda o canto, minha vida,
se lembras a canção já aprendida
e o meu nome recordas neste dia.

Espero por ti sem prazo e já sem tempo.
Não temas a neblina, a noite, o aguaceiro.
Vem sempre, com carreiro ,ou sem carreiro.
Chama-me onde estiveres, ó minha alma,
e anda ter comigo, companheiro.


Gabriela Mistral
Lagar
(Santiago do Chile, 1954)
Antologia Poética
Selecção, tradução e apresentação de
Fernando Pinto do Amaral

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