quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Pedro Tamen

Papel amarrotado desse chá que tomaste
na tarde de qual dia, ou o copo de vidro
depressa transformado na total transparência,
não é que inexistente, mas de mínima espessura
sobre o cais deste porto onde ninguém aporta,
não o papel rasgado, não o desfeito em fogo,
incolor, inodoro, antraz ignoto, anuro,
coisa que sim, que é, mas já não o que foi,
vazia intensidade, inútil excrescência
da vida tilintante
- eis o que tenho agora
quando o dia amanhece e cai no saco roto
da débil complacência com que já não me vejo.

Pedro Tamen
relâmpago n.º3 10/98

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