Jorge Guimarães
I. AMBIENTE BIBLIOGRÁFICO DO BARROCO
II. O estudo da colecção
de memórias, crónicas e documentos que interessa para se compreender a história de S. Gonçalo de Lagos, da representação hagiográfica da sua vida à produção social da sua santidade, remete para um período que, entre finais do século XV e princípios do século XVIII, vai construindo novos ritmos sociais e culturais da história religiosa portuguesa.
Recorde-se que, ao longo do século XV e início do século XVI, o chamado movimento das observâncias, no qual se integra a reforma das ordens, malgrado o seu carácter essencialmente disciplinar e de organização interna, contribuiria para uma renovação do sentimento religioso e da espiritualidade. Acompanhado pelo incentivo à publicação e leitura de obras de espiritualidade e formação de círculos devotos que integravam religiosos, clérigos e leigos, este período gera personagens que, na sua maioria pertencentes a ordens religiosas, se tornam notáveis pelo seu exemplo, pelas práticas espirituais ou pelos seus escritos.
Como assinala Ivo Carneiro de Sousa (1) para o caso português, a partir de 1536 entra-se num período em que, todos os anos, ininterruptamente, se publicam obras religiosas e de espiritualidade, movimento editorial que aumenta em meados do século, conhecendo - provavelmente associado à recepção dos decretos tridentinos e ao sucesso da imprensa nacional - uma notória consolidação na década de 1560 e um acréscimo a partir dos anos oitenta, seguido de um demorado declínio da actividade dos prelos portugueses permitindo destacar que o nosso país foi afectado pelo esplendor cultural que caracterizou as cidades do Império Espanhol no século XVII. Assim, das obras inventariadas na referencial Bibliografia Cronológica da Literatura de Espiritualidade, (2) encontramos apenas cinco hagiografias no século XVI, aumentando esse número para o dobro na centúria seguinte,(3) certamente em comunicação com uma nova orientação social e cultural no consumo de vidas e exemplos de santidade, sobretudo portugueses.
Para além daquele movimento reformador renascentista, João Francisco Marques sublinha que do Concílio de Trento resultaria a reafirmação de Cristo como único salvador e redentor dos homens e um fundo incentivo ao valimento dos santos para obtenção do favor divino.
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Jorge Gonçalves Guimarães
SÃO GONÇALO DE LAGOS
Hagiografia, Culto e Memória
Séc.XVI/XVIII
Câmara Municipal de Torres Vedras
Colecção Linhas de Torres
Etiquetas: História
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