Gottfried Benn
NINGUÉM CHORE
Rosas, sabe Deus de onde tão belas,
em céus verdes a cidade
à tarde
no efémero dos anos !
Que saudades do tempo em que pra mim
um simples marco e trinta era vital,
sim, levado pela necessidade, eu contava os centavos,
tinha de ajustar-lhes os meus dias,
dias, que digo eu: semanas com pão e doce de ameixas
em potes de barro
trazidos da aldeia natal,
ainda iluminados da miséria caseira,
como tudo doía, como era belo e trémulo !
Pra quê o esplendor dos áugures europeus,
dos grandes nomes,
dos pour le mérite,
que olham para si e prosseguem criando,
ah, só o perecível é belo,
vendo pra trás a miséria,
bem como o zé-ninguém que não se reconhece,
soluça e anda aos carimbos do desemprego,
admirável este Hades
que toma o obscuro .
como os áugures -
ninguém chore,
ninguém diga: eu, tão só.
Gottfried Benn
50 poemas
versão de Vasco Graça Moura
Relógio d´Água
1998
Rosas, sabe Deus de onde tão belas,
em céus verdes a cidade
à tarde
no efémero dos anos !
Que saudades do tempo em que pra mim
um simples marco e trinta era vital,
sim, levado pela necessidade, eu contava os centavos,
tinha de ajustar-lhes os meus dias,
dias, que digo eu: semanas com pão e doce de ameixas
em potes de barro
trazidos da aldeia natal,
ainda iluminados da miséria caseira,
como tudo doía, como era belo e trémulo !
Pra quê o esplendor dos áugures europeus,
dos grandes nomes,
dos pour le mérite,
que olham para si e prosseguem criando,
ah, só o perecível é belo,
vendo pra trás a miséria,
bem como o zé-ninguém que não se reconhece,
soluça e anda aos carimbos do desemprego,
admirável este Hades
que toma o obscuro .
como os áugures -
ninguém chore,
ninguém diga: eu, tão só.
Gottfried Benn
50 poemas
versão de Vasco Graça Moura
Relógio d´Água
1998
Etiquetas: poesia/poetry/poesie
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