quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Fiodor Dostoievsky

Capítulo I


Enfim, eis-me de regresso após quinze dias de ausência.
Há já três dias que os nossos chegaram a Roletemburgo.
Pensava que me esperavam com a maior impaciência, mas
enganei-me. O general exibia um ar extremamente desen-
volto; falou-me com arrogância e remeteu-me para a irmã.
É claro que conseguiram o dinheiro. Pareceu-me mesmo
que o general se sentia perturbado na minha presença.
Maria Filipovna estava toda agitada; não me disse mais que
algumas palavras, mas pegou no dinheiro, contou-o e
ouviu até ao fim a minha exposição. Esperava-se para jan-
tar Mezentzov, o francesito e um inglês; como sempre, des-
de que há dinheiro, convidam-se as pessoas para jantar: à
moscovita. Paulina Alexandrovna, quando me viu, pergun-
tou-me por que estivera eu tanto tempo ausente e foi-se
sem esperar pela resposta. Fê-Io de propósito, evidente-
mente. Mas precisamos de ter uma explicação. Sinto o co-
ração oprimido.
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Capítulo II

Para falar verdade, isso não me agradava. Decidira jo-
gar, mas não esperava começar a fazê-Io por conta de ou-
trem. Sentia-me até um pouco desconcertado e foi de mau
humor que penetrei nas salas de jogo. Tudo aí me desagra-
dou ao primeiro relance. É-me impossível suportar o servi-
lismo das crónicas mundanas do mundo inteiro e, princi-
palmente, dos nossos jornais russos, nos quais os nossos
cronistas tratam de dois assuntos: primeiro, da magnifi-
ciência e do luxo das salas de jogo das estâncias termais do
Reno, e, depois, como querem fazer crer, das pilhas de
ouro que se amontoam nas mesas. E o certo é que não lhes
pagam para dizer isto: revelam simplesmente uma desinte-
ressada complacência. Estas tristes salas não têm qualquer
esplendor e não só o ouro não se amontoa nas mesas, como
é, até, difícil vê-Io. É claro que, de quando em quando, ao
longo da época, surge um novato, um inglês ou um asiático
- um turco, como aconteceu neste Verão - que em pouco
tempo ganha ou perde somas fabulosas. Mas os outros não
arriscam senão magras quantias e, de um modo geral, pou-
co dinheiro aparece no pano verde.

Pág. 17

Fiodor Dostoievsky
O Jogador
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