quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

António Cândido Franco

GALÁXIAS

De noite no céu faz sol.
Tudo palpita animado de vida.
De noite o mundo duplo do além
é como o centro da terra.
Movem-se as galáxias brancas
como se estivéssemos em pleno dia.
O céu é o interior da terra.
Palpitam aí os abismos incriados
destes fogos.
Penso nas galactites, pedaços que estalaram
do céu.
O céu é uma via de luz.
Vêem-se correr as espessas resinas do dia.
larvas de pus. Fogos galácticos
como estradas dum sono branco.
Acordam, mas não se levantam.
Andrómeda com a sua cinza enxuta
fermenta através do escuro
uma brancura diurna. Resina
expansiva.
Andrómeda tem os braços cheios de leite.
Estátua compacta
enquanto em seu redor o céu está repleto
de prata.
A noite, lugar galactífero, pedra
de leite
que recorda na terra o sol.
As galáxias são a matéria mesma da memória.

António Cândido Franco
Poesia Digital
7 poetas dos anos 80
Organização de Amadeu Baptista
e José-Emílio Nelson
Campo das Letras
2002

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