sexta-feira, 12 de março de 2010

Rui Pires Cabral

PRELUDE N.º 24

De regresso ao meu palácio adormecido, esta luz deve significar
que foste apenas uma das invenções da noitada. Tinha começado
[a chover
outra vez, todos os fogos estariam mortos se eu não tivesse trazido
[uma parte
das tuas mãos nos meus bolsos. Mas eu não me lembro de te ter dito
como é que as coisas funcionam para mim. À força de estar sempre
[tão calado
já não distingo nada por detrás da minha cara. Como é que te serviu
[o meu desejo
entre a desordem que fazíamos? O tempo era tão comprido nos
[meus sentidos
que eu poderia ter dito: quero ficar contigo para sempre. Ainda bem
[que as circunstâncias
não me levaram a dizer uma mentira.

Por enquanto ainda te reconheço
nos movimentos que faço, ponho a roupa no armário com a tua pele.
Mas não verei muito do dia que se aproxima, acho que já o gastei
[todo contigo
esta noite. Vai ser fácil encontrar nos esconderijos da música
um bom lugar para o sono. E contra isso, tu também não tens
[muitas hipóteses.

Rui Pires Cabral
música antológica
& onze cidades
Editorial Presença
colecção forma

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