ANDI NACHON
36 MOVIMENTOS ATÉ
1
Um movimento, súbito
não resta nada. Ou quatro
quando você abre os olhos e está a meu lado,
trezentas e quarenta e três: entre mão
e jarra, do nariz ao vidro
de sua janela - mais
oitenta? -. E os outros, atravessando luz
consistências do ar, seu peso: apenas
outra série de ações
de nenhuma parte a lugar nenhum
n movimentos ou o único
pacto que você manterá.
5
Alminha, levante-se. Como se pudesse
baixar o volume, sossegasse tumultos
para que não doesse, não se alcançasse esse
umbral onde tudo
faz doer. Alminha: um tempo
para você não ser, perder o pêndulo
firme do jogo, sua cláusula vermelha
"cada um faz
o pouco que pode". Saiamos daqui
mais claramente, saiamos dessa. Alminha, que coisas
os dias negociam. Digamos querida
não existe clemência
em vozes pequenas, minha vida minha alma
celebremos ameixas
damascos e peras. Dizia, ai minha, um tempo
para você não ser, o minuto em que todos
fazemos
este pouco que resta.
18
Há uma guerra prestes a estourar dizem. Antes
caminhei downtown, sob amoreiras
agora douradas e me detive sobre seu canto
calafrio que conta este
princípio de outono
nos últimos dias de verão. Dizem, lá fora há coisas
por explodir, assuntos
para além das amoreiras e súbitos
declínios do verão, seu estrondo
submerge a copa das árvores e você
em um mesmo final. Vocês dançaram
o segundo andar
dessa cidade de montanhas? Aqui nas outras
montanhas mais ao norte - idênticos picos, a mesma
idade da explosão - dancei hip-hop entre garotos
de quinze anos
que crescem neste povoado
guardado por cães de caça e motorhomes
onde alguém deixa sobre a mesa
um vaso com rosas. Lá fora
há novas explosões, a medida
do canto e sua história - não as amoreiras -
falam de guerras, tão cruentas e eu
penso só o gesto
com que alguém preparou a mesa
o vaso e suas três rosas
- duas amarelas, uma vermelha - tanta delicadeza
em meio a residências transitórias.
26
Beije o futuro, como se beija toda
possibilidade ou a espera
disso que os dias trazem e levam. A cada
trecho percorrido, acaricia esse
amanhã possível para ver a maneira
como a folha de papel cai os sete
andares do edifício sobre o bar king sao. E é s
agora. Traslado
de nada a menos ainda e ao tempo
a consistência firme
dessa folha caindo, seu peso
ante o vazio que qualquer
manhã apresenta. Pouca
coisa além disso, seus olhos
- e os meus -
necessariamente abertos. E só.
ANDI NACHON
Tradução: Paloma Vidal, Rubens Figueirdo e Carlito Azevedo
in Inimigo Rumor 13
2º semestre 2002
Revista de poesia Brasil e Portugal
1
Um movimento, súbito
não resta nada. Ou quatro
quando você abre os olhos e está a meu lado,
trezentas e quarenta e três: entre mão
e jarra, do nariz ao vidro
de sua janela - mais
oitenta? -. E os outros, atravessando luz
consistências do ar, seu peso: apenas
outra série de ações
de nenhuma parte a lugar nenhum
n movimentos ou o único
pacto que você manterá.
5
Alminha, levante-se. Como se pudesse
baixar o volume, sossegasse tumultos
para que não doesse, não se alcançasse esse
umbral onde tudo
faz doer. Alminha: um tempo
para você não ser, perder o pêndulo
firme do jogo, sua cláusula vermelha
"cada um faz
o pouco que pode". Saiamos daqui
mais claramente, saiamos dessa. Alminha, que coisas
os dias negociam. Digamos querida
não existe clemência
em vozes pequenas, minha vida minha alma
celebremos ameixas
damascos e peras. Dizia, ai minha, um tempo
para você não ser, o minuto em que todos
fazemos
este pouco que resta.
18
Há uma guerra prestes a estourar dizem. Antes
caminhei downtown, sob amoreiras
agora douradas e me detive sobre seu canto
calafrio que conta este
princípio de outono
nos últimos dias de verão. Dizem, lá fora há coisas
por explodir, assuntos
para além das amoreiras e súbitos
declínios do verão, seu estrondo
submerge a copa das árvores e você
em um mesmo final. Vocês dançaram
o segundo andar
dessa cidade de montanhas? Aqui nas outras
montanhas mais ao norte - idênticos picos, a mesma
idade da explosão - dancei hip-hop entre garotos
de quinze anos
que crescem neste povoado
guardado por cães de caça e motorhomes
onde alguém deixa sobre a mesa
um vaso com rosas. Lá fora
há novas explosões, a medida
do canto e sua história - não as amoreiras -
falam de guerras, tão cruentas e eu
penso só o gesto
com que alguém preparou a mesa
o vaso e suas três rosas
- duas amarelas, uma vermelha - tanta delicadeza
em meio a residências transitórias.
26
Beije o futuro, como se beija toda
possibilidade ou a espera
disso que os dias trazem e levam. A cada
trecho percorrido, acaricia esse
amanhã possível para ver a maneira
como a folha de papel cai os sete
andares do edifício sobre o bar king sao. E é s
agora. Traslado
de nada a menos ainda e ao tempo
a consistência firme
dessa folha caindo, seu peso
ante o vazio que qualquer
manhã apresenta. Pouca
coisa além disso, seus olhos
- e os meus -
necessariamente abertos. E só.
ANDI NACHON
Tradução: Paloma Vidal, Rubens Figueirdo e Carlito Azevedo
in Inimigo Rumor 13
2º semestre 2002
Revista de poesia Brasil e Portugal
Etiquetas: poesia/poetry/poesie
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