quinta-feira, 26 de maio de 2011

PAUL ÉLUARD

Se eu vos digo que o sol na floresta
É como um ventre que se entrega num leito
Vós acreditais e aprovais os meus desejos

Se eu vos digo que o cristal dum dia de chuva
Ressoa sempre na languidez do amor
Vós acreditais e aumentais o tempo do amor

Se eu vos digo que entre os ramos do meu leito
Faz ninho um pássaro que nunca diz sim
Vós acreditais ainda mais e depois compreendeis-me

Mas se eu canto sem desvios a minha rua inteira
E o meu país inteiro como uma rua interminável
Vós não me acreditais e partis para o deserto

Porque vós marchais sem fim sem saber que os homens
Precisam de estar unidos de esperar e de lutar
Para explicar o mundo e para o transformar

Ao ritmo do meu coração levar-vos-ei
Estou sem forças vivi e vivo ainda
Mas eu me espanto de falar para vos arrebatar

Quando eu quereria libertar-vos para vos confundir
Tanto com a alga e o junco da aurora
Como com vossos irmãos que constroem a luz.

PAUL ÉLUARD
(1895-1952)
(in «Poèmes Politiques»,
Trad. de António Ramos Rosa,
«Árvore - folhas de poesia»,
Introdução e índice de Luís Adriano Carlos,
Campo das Letras, 2003)

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