Fernando Guimarães
PARA ALGUÉM DESCONHECIDO
O sono há-de tornar mais pesadas as suas palavras. É ali que se
[vêem
as nuvens apagadas, os campos depois de feitas as colheitas, os
simples vestígios de uma praia qualquer porque foi perto dela que
[nasceu. Já uma
das mãos se inclina para a água e ao deixar entreabertos os dedos
acaba por sentir a sua frescura próxima, circular. Era este o aceno
que se aguardava como se fosse um mistério. Pode ficar mais
[próximo
o seu rumor. Mas o que ele escuta é diferente. Surpreende agora a
[poeira
que se ergue com o vento e reconhece outras veredas maiores. Está
[desenhado
um rasto de sangue como se fosse uma letra. Que sentido ela pode
[fazer
sozinha, mesmo que a pronuncie? Ah, nenhum. Ignoramos de que
[veias
este sangue chegava, mas ali mostraram-lhe como uma ave
[principia
o seu voo quando tudo nos pareceu mais nítido. A volta das flores
descobre um odor que já tinha esquecido. É assim. Ao longo desta
[praia
veio encontrar ainda os barcos, as velas erguidas, a espuma
abandonada pelas ondas, o seu rumor. Poderia referir-se a cada
[ruga
do rosto como se fosse o caminho que só as lágrimas conseguiam
com tranquilidade percorrer. Sem que o tivesse esperado,
[aproxima-se
mais o nevoeiro. É o que tantas vezes acontece junto a este mar
desconhecido. Abre de novo uma das mãos para que esteja perto
do vento, para que o sinta finalmente. E também para que ela se
[torne
maior. Sabemos que é assim que precisa desta mão porque já
[perdeu tudo.
Fernando Guimarães
REQUIEM
Lições de Trevas
Edições quasi
O sono há-de tornar mais pesadas as suas palavras. É ali que se
[vêem
as nuvens apagadas, os campos depois de feitas as colheitas, os
simples vestígios de uma praia qualquer porque foi perto dela que
[nasceu. Já uma
das mãos se inclina para a água e ao deixar entreabertos os dedos
acaba por sentir a sua frescura próxima, circular. Era este o aceno
que se aguardava como se fosse um mistério. Pode ficar mais
[próximo
o seu rumor. Mas o que ele escuta é diferente. Surpreende agora a
[poeira
que se ergue com o vento e reconhece outras veredas maiores. Está
[desenhado
um rasto de sangue como se fosse uma letra. Que sentido ela pode
[fazer
sozinha, mesmo que a pronuncie? Ah, nenhum. Ignoramos de que
[veias
este sangue chegava, mas ali mostraram-lhe como uma ave
[principia
o seu voo quando tudo nos pareceu mais nítido. A volta das flores
descobre um odor que já tinha esquecido. É assim. Ao longo desta
[praia
veio encontrar ainda os barcos, as velas erguidas, a espuma
abandonada pelas ondas, o seu rumor. Poderia referir-se a cada
[ruga
do rosto como se fosse o caminho que só as lágrimas conseguiam
com tranquilidade percorrer. Sem que o tivesse esperado,
[aproxima-se
mais o nevoeiro. É o que tantas vezes acontece junto a este mar
desconhecido. Abre de novo uma das mãos para que esteja perto
do vento, para que o sinta finalmente. E também para que ela se
[torne
maior. Sabemos que é assim que precisa desta mão porque já
[perdeu tudo.
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Etiquetas: poesia/poetry/poesie
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