Mariano Peyrou
podes fazer várias coisas com esta árvore
cobri-la com uma cor original ou desenhá-la na tua mente como se fosse um rio
podá-la com as unhas até modificares a tua percepção do tempo
calcular a sua altura e enganares-te sem te dares conta
podes cheirá-la como se pensasses sem palavras
esconder as suas raízes debaixo da terra e pintar de verde a mais
sentar-te em cima do que foi a sua sombra e esperar que se faça dia
defini-la para que seja ao mesmo tempo bela e artificial
inventar um incêndio e salvá-la
trocá-la pelo direito a deslocares-te no prado
transformá-la em papel e descrevê-la de uma forma diferente em
caminhar em círculos à volta de qualquer das árvores vizinhas
picá-la com um alfinete para constatar que não se queixa
ter uma longa conversa à luz dos seus pássaros e descobrir que abriga tantas contradições como asas
podes tomá-la como exemplo num ensaio sobre a horizontalidade
amá-la compassivamente pensando nos poderosos ventos que trouxeram das estrelas a matéria que a forma
apalpar a sua rugosidade com cada um dos dedos ou com a
palma inteira da mão
o que não podes fazer é entendê-la
Mariano Peyrou
O Discurso Opcional Obrigatório
Tradução de Manuel de Freitas
Averno - 2009
Etiquetas: poesia/poetry/poesie
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