sexta-feira, 12 de março de 2010

Mariano Peyrou

UMA ÁRVORE


podes fazer várias coisas com esta árvore

cobri-la com uma cor original ou desenhá-la na tua mente como se fosse um rio

podá-la com as unhas até modificares a tua percepção do tempo

calcular a sua altura e enganares-te sem te dares conta

podes cheirá-la como se pensasses sem palavras

esconder as suas raízes debaixo da terra e pintar de verde a mais verde das suas folhas

sentar-te em cima do que foi a sua sombra e esperar que se faça dia

defini-la para que seja ao mesmo tempo bela e artificial

inventar um incêndio e salvá-la

trocá-la pelo direito a deslocares-te no prado

transformá-la em papel e descrevê-la de uma forma diferente em cada página

caminhar em círculos à volta de qualquer das árvores vizinhas

picá-la com um alfinete para constatar que não se queixa

ter uma longa conversa à luz dos seus pássaros e descobrir que abriga tantas contradições como asas

podes tomá-la como exemplo num ensaio sobre a horizontalidade

amá-la compassivamente pensando nos poderosos ventos que trouxeram das estrelas a matéria que a forma

apalpar a sua rugosidade com cada um dos dedos ou com a

palma inteira da mão

o que não podes fazer é entendê-la



Mariano Peyrou

O Discurso Opcional Obrigatório

Tradução de Manuel de Freitas

Averno - 2009

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