sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Manuel Gusmão
I
Era como se quem falasse visse pela boca
visse pelas mãos a sombra que cai do teu nome
sobre o chão do mundo; a indeclinável declinação d
o teu corpo no arco
do amor, na água abraçada do amor.
tu escreves - dizes tu como se não fosse verdade
que a escrita deve fazer ao longo da tua tristeza,
da tua esperança. - Assim, isto; vês: isto?
Assim: as mãos é que o dizem sobre ti; garantem.
Fazem que não há paz entre os versos, entre as estrofes,
entre cada letra do nome que [me] põe a voz em movimento.
É preciso de vez em quando insistir em que alguém está aqui
a falar. que essa fala deveria poder afastar um pouco
o gesto da morte que se quer instalar entre cada voz.
E tu respondes: é como se visses pela boca, pelas mãos,
mas o ar não respondesse ao que te escuto, ou eu morresse.
Ou então não estavas já ali, descias no elevador ao encontro
do meu esquecimento. Há um marulho nas árvores do largo.
O que é que julgas que sabes? Há uma maneira de sair de cena
que não deixa ver a peste nem a boca que a fenda na máscara
faz.
- Sim. Ninguém fala separadamente. Andam há séculos
a tentar convencer-nos do contrário. E depois não haveria
nenhuma voz sobre as dunas, os juncais, as pedrarias do mundo.
O tigre mesmo já não fulguraria senão no livro restante.
- nem há o silêncio. Há uma forma de dizer ou ouvir
as falas. - não há silêncio na minha cabeça a morrer, nem
no mundo, nem nas estrelas que não há esta noite.
põe as mãos aqui; no écran onde passa o filme. As mãos na luz
atravessadas pelas sombras e os brilhos das personagens.
O filme é a preto e branco como as formas e as cores destas
letras que não cessam. Mexes as mãos à procura do som das falas.
Não consegues já ouvir as marcas da voz que dizia «deixa-te
disso»
- e aparecia uma pequena paisagem no ar como uma nuvem
pintada...
Não há silêncio e não é sequer um milagre; é a promessa
mais comum
cantada no mais alto do murmúrio; no mais
intenso do que é intenso: a alegria mortal.
Manuel Gusmão
Mapas
o Assombro e a Sombra
1989-1993
Caminho
1996
Era como se quem falasse visse pela boca
visse pelas mãos a sombra que cai do teu nome
sobre o chão do mundo; a indeclinável declinação d
o teu corpo no arco
do amor, na água abraçada do amor.
tu escreves - dizes tu como se não fosse verdade
que a escrita deve fazer ao longo da tua tristeza,
da tua esperança. - Assim, isto; vês: isto?
Assim: as mãos é que o dizem sobre ti; garantem.
Fazem que não há paz entre os versos, entre as estrofes,
entre cada letra do nome que [me] põe a voz em movimento.
É preciso de vez em quando insistir em que alguém está aqui
a falar. que essa fala deveria poder afastar um pouco
o gesto da morte que se quer instalar entre cada voz.
E tu respondes: é como se visses pela boca, pelas mãos,
mas o ar não respondesse ao que te escuto, ou eu morresse.
Ou então não estavas já ali, descias no elevador ao encontro
do meu esquecimento. Há um marulho nas árvores do largo.
O que é que julgas que sabes? Há uma maneira de sair de cena
que não deixa ver a peste nem a boca que a fenda na máscara
faz.
- Sim. Ninguém fala separadamente. Andam há séculos
a tentar convencer-nos do contrário. E depois não haveria
nenhuma voz sobre as dunas, os juncais, as pedrarias do mundo.
O tigre mesmo já não fulguraria senão no livro restante.
- nem há o silêncio. Há uma forma de dizer ou ouvir
as falas. - não há silêncio na minha cabeça a morrer, nem
no mundo, nem nas estrelas que não há esta noite.
põe as mãos aqui; no écran onde passa o filme. As mãos na luz
atravessadas pelas sombras e os brilhos das personagens.
O filme é a preto e branco como as formas e as cores destas
letras que não cessam. Mexes as mãos à procura do som das falas.
Não consegues já ouvir as marcas da voz que dizia «deixa-te
disso»
- e aparecia uma pequena paisagem no ar como uma nuvem
pintada...
Não há silêncio e não é sequer um milagre; é a promessa
mais comum
cantada no mais alto do murmúrio; no mais
intenso do que é intenso: a alegria mortal.
Manuel Gusmão
Mapas
o Assombro e a Sombra
1989-1993
Caminho
1996
Etiquetas: poesia/poetry/poesie