domingo, 18 de setembro de 2011

Carlos Tê

ninguém escreve à alice

era outono e a tristeza
caía naqueles lados
como se dobrassem sinos
com um toque de finados

o mundo chamava alice
e ela sem vontade de ir
tão cedo para estar amarga
mais ainda para cair

talvez uma só palavra
talvez uma só missiva
pudesse mudar a agulha
dum coração à deriva

mas o carteiro passou
nada deixou nada disse
e o recado não chegou
ninguém escreve à alice
ninguém escreve à alice

até que veio o inverno
do seu descontentamento
que lhe enregelou a alma
com um frio mudo e lento

uma noite foi para a rua
com roupas de ritual
ao longe brilhavam néons
foi notícia no jornal

talvez uma só palavra
talvez um simples recado
pudesse mudar a agulha
dum coração desvairado

mas o carteiro passou
nada deixou nada disse
e o recado não chegou
ninguém escreve à alice

carlos tê

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Marta Hugon - "Crash into me"

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Sylvia Plath



Face Lift

You bring me good news from the clinic,
Whipping   silk scarf, exhibiting the tight white
Mummy-cloths, smiling: I'm all right.
When I was nine, a lime-green anesthetist
Fed me banana gas through a frog-mask. The nauseous vault
Boomed with bad dreams and the Jovian voices of surgeons.
Then mother swam up, holding a tin basin.
O I was sick.

They've changed all that. Traveling
Nude as Cleopatra in my well-boiled hospital shift,
Fizzy with sedatives and unusually humorous,
I roll to an anteroom where a kind man
Fists my fingers for me. He makes me feel something
precious
Is leaking from the finger-vents. At the count of two
Darkness wipes me out like chalk on a blackboard ...
I don't know a thing.

For five days I lie in secret,
Tapped like a cask, the years draining into my pillow.
Even my best friend thinks I´m in the country.
Skin doesn't have roots, it peels away easy as paper.
When I grin, the stitches tauten. I grow backward. I'm
twenty,
Broody and in long skirts on my first husband's sofa, my
fingers
Buried in the lambswool of the dead poodle;
I hadn't a cat yet.

Now she's done for, the dewIapped lady
I watched settle, line by line, in my mirror
Old sock-face, sagged on a darning egg.
They've trapped her in some laboratory jar

Sylvia Plath
 Poems  selected by Ted Hughes
Faber Poetry
 FF
faber and faber

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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Arquitecto Raúl Chorão Ramalho


                                           
  Introdução

De uma maneira geral, e para o senso comum do país, a arquitectura portuguesa do séc. XX não é entendida ainda como património a valorizar e a defender, sendo apenas as construções mais recuadas no tempo consideradas memória histórica. Mesmo a Arquitectura
Moderna Portuguesa e os arquitectos portugueses que aderiram plenamente ao seu vocabulário, num louvável esforço de actualização da linguagem arquitectónica, malgrado os fortes condicionalismos ditados pela estética ideológica do Estado Novo, pouca atenção têm merecido.
Não constituirá, pois, excepção que a obra de Raul Chorão Ramalho, figura incontornável na afirmação do movimento moderno em Portugal e de produção assentando em larga escala no arquipélago da Madeira, continue a merecer uma maior divulgação através de estudo mais atento e aprofundado. Os seus edifícios marcam claramente a fisionomia do arquipélago da Madeira e muito concretamente a paisagem urbana do Funchal, cunhando um tempo e uma época com construções perenes e dignas que afirmativamente trouxeram à ilha uma nova linguagem arquitectónica consonante com as preocupações da mais informada vanguarda portuguesa e arquitectura internacional. Isto, numa região pobre e atrasada sócio-culturalmente pelo isolamento político e geográfico e pelo excessivo peso da igreja.
A sua obra foi objecto de devida homenagem em 1997, com a exposição dos seus projectos na Casa da Cerca, em Almada, e depois no Funchal, no Salão Nobre da Assembleia Legislativa Regional, fruto do aturado trabalho do seu último colaborador, o arquitecto Victor Mestre, e da sócia deste, Sofia Aleixo, que em boa hora levaram a cabo a inventariação do seu espólio de atelier,
num merecido corolário da sua actividade profissional, ainda em vida do autor. Não obstante, é na preocupação de dar a conhecer a importante obra de Chorão Ramalho e consciencializar, para melhor proteger, que surge este trabalho, modesto, mas empenhado, labor de divulgação.
Procuramos com este trabalho valorizar, através de testemunho e análise, o importante património moderno que a Região Autónoma da Madeira possui e deve a Chorão Ramalho.
Para tanto procurámos investigar o espólio do atelier do arquitecto Chorão Ramalho que, após a sua- morte, foi depositado pela família na antiga Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, hoje Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana, mais precisamente na sua biblioteca instalada no Forte de Sacavém;..........................
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A Obra de Raúl Chorão Ramalho
no Arquipélago da Madeira
Emanuel Gaspar de Freitas
Caleidoscópio
2010

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