quinta-feira, 26 de maio de 2011

PAUL ÉLUARD

Se eu vos digo que o sol na floresta
É como um ventre que se entrega num leito
Vós acreditais e aprovais os meus desejos

Se eu vos digo que o cristal dum dia de chuva
Ressoa sempre na languidez do amor
Vós acreditais e aumentais o tempo do amor

Se eu vos digo que entre os ramos do meu leito
Faz ninho um pássaro que nunca diz sim
Vós acreditais ainda mais e depois compreendeis-me

Mas se eu canto sem desvios a minha rua inteira
E o meu país inteiro como uma rua interminável
Vós não me acreditais e partis para o deserto

Porque vós marchais sem fim sem saber que os homens
Precisam de estar unidos de esperar e de lutar
Para explicar o mundo e para o transformar

Ao ritmo do meu coração levar-vos-ei
Estou sem forças vivi e vivo ainda
Mas eu me espanto de falar para vos arrebatar

Quando eu quereria libertar-vos para vos confundir
Tanto com a alga e o junco da aurora
Como com vossos irmãos que constroem a luz.

PAUL ÉLUARD
(1895-1952)
(in «Poèmes Politiques»,
Trad. de António Ramos Rosa,
«Árvore - folhas de poesia»,
Introdução e índice de Luís Adriano Carlos,
Campo das Letras, 2003)

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quarta-feira, 25 de maio de 2011

PAUL VERLAINE

SOBRE UMA ESTÁTUA

Quê?! Nesta estância balnear
- Repouso, tréguas, paz - contigo
De face ou dorso venho dar,
Canímedes, meu belo amigo!

Arrebata-te a águia, acaso
Com pena, do meio das flores;
Avara de efusões sua asa
Parece querer-te, se tu fores.

Oh! Não prò Júpiter tirânico,
Mas «pràs nuvens», talvez, plo visto.
E aquele olho que me dá pânico
Lança-te um olhar bem esquisito...

Fica connosco, ó bom rapaz!
Todo este tédio em que me movo
Distrai-o tu, como és capaz.
Pois não és nosso irmão mais novo?

  Aix-les-Bains, Setembro de 1889

PAUL VERLAINE
(1844-1896)
(in «Hombres e Algumas Mulheres»,
Tradução de Luiza Neto Jorge)

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Colagens fotográficas


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terça-feira, 17 de maio de 2011

Roberto Fernández Retamar

FELIZES OS NORMAIS

Felizes os normais, esses seres estranhos.
Os que não tiveram uma mãe louca, um pai bêbedo, um filho delinquente,
Uma casa em parte nenhuma, uma doença desconhecida,
Os que não foram calcinados por um amor devorador,
Os que viveram os dezassete rostos do sorriso e um pouco mais,
Os cheios de sapatos, os arcanjos com chapéus,
Os satisfeitos, os gordos, os lindos,
Os rintimtim e os seus sequazes, os que como não, por aqui,
Os que ganham, os que são queridos até ao fim,
Os flautistas acompanhados por ratos,
Os vendedores e seus compradores,
Os cavaleiros ligeiramente sobre-humanos,
Os homens vestidos de trovões e as mulheres de relâmpagos,
Os delicados, os sensatos, os finos,
Os amáveis, os doces, os comestíveis e os bebíveis.
Felizes as aves, o esterco, as pedras.

Mas que dêem passagem aos que fazem os mundos e os sonhos,
As ilusões, as sinfonias, as palavras que nos desbaratam
E nos constroem, os mais loucos que as suas mães, os mais bêbedos
Que os seus pais e mais delinquentes que os seus filhos
E mais devorados por amores calcinantes.
Que lhes dêem o seu sítio no inferno, e basta.

Roberto Fernández Retamar (Cuba)

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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Finlandnomics - What Portuguese should know about Finland

sábado, 7 de maio de 2011

What the Finns need to know about Portugal | O que os Finlandeses precis...

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Sol LeWitt: A Wall Drawing Retrospective