sábado, 31 de janeiro de 2009

30 anos


A artista plástica Irene Buarque na comemoração dos 30 anos da Galeria Diferença

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30 anos


O arquitecto Nuno Teotónio Pereira na comemoração do 30.ºaniversário da
Galeria Diferença

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sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Bairro Alto

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Paulo Renato Cardoso

VOZ Clamante
no deserto no mar na cidade na guerra no peito
Tu andas a escrever-me Tu respiras-me tanto
e lês-me coisas que não escrevi Tu cuidas-me das feridas
Tu deves ser mulher: vais por onde não há ida apenas noite
e chegas em segredo à porta aberta
voltas sempre por outro caminho mais íntimo
e alteras o lugar e a coisa e o sentido
vens de onde não foste
e trazes o pólen das flores que ainda são por haver

Voz Clamante
Tu deves ser mulher Só a madeira da carne mulher
é a madeira capaz de ir e vir pelos corpos quebrados
pelo vento crispante da ante-manhã da dor
pelo tempo bárbaro de cristais a espigar
sobre o amarelo infante do Mar sem sono
o que eleva as copas da Hora Só a madeira
da carne mulher é a madeira qualitativa
portadora do vértice festivo o vértice oriental
do dia: o chá de canela e mel que pirateia pelos mares do sul
descobrindo fontes no coração dos náufragos

Paulo Renato Cardoso
Órbitas Primitivas
Fracções Futuras
de Um Tratado Heliocêntrico
quasi

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Rui Costa

A MATÉRIA DO AR


Bom dia. Também eu sou feito de marfim.
Estes são os meus amigos d'hoje: folhedo
para entreter as mãos, pontas de madeira
grossa para depois comer. Hoje havia água
e a minha boca é cheia.
Nunca o mínimo deus me salvou.

Nem luz nem a treva. Às vezes, de madrugada,
visito as mulheres que lavam e que cantam.
Trabalho com elas e há um forno transparente
onde cozer o pão. Depois elas perguntam sempre
quem sou e eu respondo: sou alguém que come pão
e que se senta fora da casa com as mãos na terra.
E elas começam a cantar e nunca me falam de
amor.

Ainda tenho pensamentos mas já não os penso.
Falo como o sono nutre a sua teia e o seu
veneno. Só os bichos da terra e os que andam
no céu são brancos. E digo:
Acende uma fogueira ao que sobrar do
mundo.



Rui Costa
A Nuvem Prateada das Pessoas Graves
quasi

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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Mais experiências fotográficas

Arte, o que é?

domingo, 25 de janeiro de 2009

manipulações fotográficas




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A gata

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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

FRED DEUX & CÉCILE REIMS


Cécile Reims et Fred Deux, photographiés par Yves Géant, en novembre 2008, devant la Halle Saint-Pierre, à Paris

FRED DEUX, MIROIR DE MA VIE, 2007, décalcomanie, encre de Chine, mine
de plomb [67 x 104 cm). Collection de l'artiste

CÉCILE REIMS. HANS LE HÉRISSON. 1972, d'après Fred Deux [27 x 16 cm) -LA TRAVERSÉE. 1988, d'après Fred Deux [35 x 25 cm)- FORTERESSE DE PAILLE, 2007 [26 x 21 cm)

Deux grands artistes (et écrivains) singuliers, dans tous les sens du terme, ayant produit une ouvre immense depuis soixante ans.

REPÈRES

- Naissance de Fred Deux, le 1er juillet 1924, à Boulogne-Billancourt. Famille ouvrière, De santé fragile, il s'intéresse très tôt au dessin.
- Naissance de Cécile Rems (son nom changera en Reims], le 19 octobre 1927, à Paris, Sa mère n'ayant pas survécu, elle est confiée à ses grands-parents maternels en Lituanie et passe son enfance au sein d'une famille nombreuse juive. Elle retourne à Paris en 1933 et s'intéresse au dessin.
- Pendant la Seconde Guerre mondiale, Fred Deux rejoint le groupe de Résistance F.T.P et Cécile Reims s'engage dans l'O,J,C (Organisation Juive de Combat). Après la guerre, Cécile Reims s'installe à Jérusalem, De retour à Paris, elle apprend la gravure au burin
- De son côté, Fred Deux, employé à la librairie Clary à Marseille, découvre la littérature
- Ils vont se rencontrer à Paris, en 1951, à la librairie La Hune, boulevard Saint-Germain.
- En 1959, ils s'installent près de Corcelles, dans l'Ain, Fred Deux va écrire son roman autobiographique La Gana, Cécile Reims grave Les métamorphoses d'aprês le texte d'Ovide et va tisser des étoffes pour la haute couture, En 1961, elle écrit son premier roman autobiographique L'épure.
- Ils habiteront successivement Lacoux, dans l'Ain [1959-1973], Le Couzat [1973-1985) dans le Berry, et résident depuis 1985 à La-Châtre-en-Berry
- Ils ont, depuis cinquante ans, produit un immense corpus : écrits, livres uniques, peintures, dessins, encres de Chine, aquarelles pour Fred Deux ; écrits, tissages, gravures personnelles, d'après Hans Bellmer et Fred Deux.
- 2008: ils font l'objet d'une rétrospective, intitulée « La ligne de partage », à la Halle Saint-Pierre, à Paris,

art actueL 45

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Paragem de autocarro

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

escrito vadio

os sons que lhe vibravam o tímpano de tísica descartável
assemelhavam-se ao rosnar das pegas larápias
guardadoras de seus tesouros brilhantes
nos ramos desnudados das invernais árvores

shoo!
shoo!

mas não despegavam as tralhas conseguidas
à custa da distracção dos intelectuais esmaecidos
encostados às mesas bibliotecárias
com luzes amarelas a pintalgar os olhos dos leitores

shoo!
chuuu!

de nada servia enxotar os corvos e seus afins
dos ombros das freiras de bocas retorcidas
nas celas conventuais de conveniente frialdade

uma mão arrancou algumas penas
e penachos

mfs

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escrito vadio

segurava na mão esquerda um pedaço de beleza fanada
na mão direita um orgulhoso busto de terracota
seu olho direito via os espasmos da retina
o esquerdo fixava as gaivotas ao longe

com as vozes que lhe zumbiam no sub-consciente
arranjou pretextos para divagar à sombra de uma roseira
salva-vidas
chutou os irrequietos pensamentos quânticos
que tendiam a arrastar incómodas ressonâncias em turbilhão

seguiu o caminho mais longo para aceder ao seu cofre de memórias
que de momento estava indisponível

disseram-lhe para tentar mais tarde

mfs

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segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A naifa

Sitiados

João Aguardela


Fundador e líder de bandas como Sitiados e A Naifa


Morreu o músico João Aguardela

19.01.2009 - 11h19 PÚBLICO

Morreu ontem em Lisboa o músico João Aguardela, que faria 40 anos em Fevereiro. Vocalista, líder e fundador dos Sitiados, banda que conheceu o sucesso nos anos noventa, Aguardela foi também o mentor de projectos como Megafone, Linha da Frente (formado por vocalistas de várias bandas nacionais interpretando textos de poetas portugueses) e A Naifa, o seu mais recente projecto com Luís Varatojo, com três álbuns editados aclamados pela crítica e pelo público.

Aguardela, vítima de cancro, será cremado amanhã, às 16h00, no cemitério do Alto de São João, em Lisboa.

"Criador com capacidades fora do comum, inovador, Aguardela soube antecipar tendências e lançar projectos esteticamente inéditos, sempre numa abordagem marcada pela defesa da língua e da cultura portuguesas. Firme nas convicções, determinado nos objectivos, invulgar na forma de ser e estar na vida, desde sempre grangeou respeito e admiração no meio musical, ainda que nunca tivesse procurado o estrelato", refere um comunicado da família e amigos.

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Jorge Guimarães

SÉTIMA ODE

ENVOLTA EM MUSSELINA

Senti nos pés a casca fina da terra
cortando o espaço sem fundo e sem limite,
o brilho das estrelas agulhava o espaço
chegando e partindo e sem mais nada.
Ressenti nos meus pés uma tremura do astro
que um momento vacilou roçando alguma coisa,
era de noite, os bichos estridulavam o seu canto
e o vento invisível remexia nas folhas.
Quando, de súbito, na mudez da madrugada,
envolta em musselina, apareceu a Lua,
sacudiu pela casa as rendas velhas,
pendurou nos sobreiros a sua roupa íntima
e sempre sem se mostrar enquanto se despia
desarrumou o céu sem cerimónia.
As sombras do luar fizeram-se veludo,
as árvores na luz agitavam os braços,
e o vento movia-se sem fazer barulho
passando rápido no côncavo do bosque.
Os mil ruídos perdiam-se nas bermas do silêncio,
silêncio atravessado de infinito,
silêncio que vem de tudo estar tão longe
que as estrelas todas me caberiam nas mãos,
silêncio onde a luz passa e a treva funde,
varridos pelo farol do olhar, que pára
o pensamento, como a palha sustém o luar,
silêncio que tão alto se despenha e tão profundo
que surge mais espesso que a montanha
e mais duro que a pedra com que atinge
o cisne deslizando na planície,
o silêncio entorna-se no ar
atravessando, mais que a luz, os corpos,
feito de vazio, feito de nada, feito de não existir,
feito de uma solidão tão grande
que fossem cegos os olhos das estrelas,
feito de uma vastidão tão lata
que o olhar se partisse e o juízo gelasse,
e como se de súbito do nada
a sua voz aos poucos espargisse
a impalpável cinza deste sonho,
que sonho, e com meus olhos visse,
a visão deste cego, desterrada,
fosse, para além da superfície,
o eco de uma casa abandonada.

3.30, 11/7/87, Lisboa.

Jorge Guimarães
ODES NOCTURNAS
Guimarães Editores

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domingo, 18 de janeiro de 2009

Lenda da Nazaré - Moises Espirito Santo

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

How Excellent Walt Whitman and the Soul Children of Chicago

Experiência

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Herberto Helder

v

Apenas te digo o ouro de uma palavra no meio da névoa,
formosura inclinada sobre a cinza descerrada
e o frio dos retratos.
Espero que a seiva ascenda a um puro gosto
de reaver tua grave cabeça de mãe
com platina entre a aragem. Que se inspire na seiva
o vermelho de uma face
adormecendo no vinho, acordando
para o início das primaveras.
Peço que os dedos não esqueçam o pão e a tristeza
e a boca vibre como um pensamento
na substância de um instante
carnal, irremovível.


E se morrer é a alta vocação das manhãs marcadas pelas uvas
- peço, mãe um dia
composta sobre a veemente confusão das forças
e dos números, que resguardes
entre as descuidadas dobras de pedra
o fulgor de onde plátanos e aves recebiam
a doce e dolorosa vida
da beleza.


Rente ao tempo que nos cobria
de previsão e silêncio,
arrefecem os sentidos sobre o teu rosto selado.
Pequena e imensa coisa no alto das águas,
no fundo de sementes desmemoriadas - mãe
engolfada no leite renascente,
para ti se elevam os lábios tocados pelo sumo
incompleto, o sono da próxima
incontida primavera.


Tudo o que se diga está vivo na frescura de um coração
novo. Por isso o ouro, o inseguro passo
de um dia que traz a morte em sua intensa
juventude, roça a forma do espírito
em que tu mesma te buscavas - quente e rápida
em nós, no equilibrado idioma
de fomes e sorrisos que nunca
se decifram.


Num lugar onde a sombra é gémea
do fogo irrevelado, não há
morte que se não destine a um escarlate
de rosa. Nunca se adormece
que não seja para ler um estuante anúncio
nas pálpebras que se apagam.


Nasces da melancolia, e arrebatas-te.
Como os bichos nascem da matéria dos seus dias,
como os frutos vacilam no bojo das auroras
e se embebem até que o tempo os faz

violentos,

cerrados,

palpáveis.



Herberto Helder
"FONTE", in Poesia Toda
Assírio & Alvim
1998

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Jacques Prévert


Autoportrait de Jacques Prévert en Ménine


Les garçons de la rue
Colagem de Jacques Prévert sobre uma foto de Robert Doisneau



Amants
Colagem de Jacques Prévert sobre uma foto de Brassaï


Artension n.º 45 | Janvier Février 2009

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segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Manon des sources

Claude Berri
Foi-se embora

domingo, 11 de janeiro de 2009

EGON SCHIELE


Egon Schiele de Pé em frente do Espelho
, 1916



Sagrada Família,
1913


Retrato de Friederike Maria Beer, 1914



Retrato Duplo (O Inspector Geral Heinrich Benesch e o seu Filho Otto), 1913


SCHIELE
Wolfang Georg Fischer
Taschen

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Tintin


80 anos

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A POESIA É TUDO

haverá descanso para uma nuvem
as nuvens
abraçadas
em entrelaçado?
água
vento
um desalinho
desconcertante
certeza nos movimentos?
não conformada a Terra é o pão
as nuvens a água
e o sol
o centro
total e universal.
os frutos nascem por amor
no quintal
do Éden
e Deus
com as nuvens
sempre
sempre impelindo o pólen
o pólen é o abraço.
diga-se o nome das forças e das coisas
escreva-se o testamento dos frutos
o nome e destino da cor dos peixes
por fim
pergunte-se:
haverá descanso para a Terra?
indelevelmente escreva-se a palavra
as palavras
enquanto as nuvens tocam o pólen
o fermento engenha o pão
pois a Terra não descansa
gira
dança como peão na palma da tua
da nossa mão.


Ivo Machado
in Cinco Cantos com Lorca e Outros Poemas, Ed. de Autor, 1998
A POESIA É TUDO
ANTOLOGIA I



Pudesse eu morrer hoje como tu me morreste nessa noite-
e deitar-me na terra; e ter uma cama de pedra branca e
um cobertor de estrelas; e não ouvir senão o rumor das ervas
que despontam de noite, e os passos diminutos dos insectos,
e o canto do vento nos ciprestes; e não ter medo das sombras,
nem das aves negras nos meus braços de mármore,
nem de te ter perdido - não ter medo de nada. Pudesse

eu fechar os olhos neste instante e esquecer-me de tudo-
das tuas mãos tão frias quando estendi as minhas nessa noite;
de não teres dito a única palavra que me faria salvar-te, mesmo
deixando que eu perguntasse tudo; de teres insultado a vida
e chamado pela morte para me mostrares que o teu corpo
já tinha desistido, que ias matar-te em mim e que era tarde
para eu pensar em devolver-te os dias que roubara. Pudesse

eu cair num sono gelado como o teu e deixar de sentir a dor,
a dor incomparável de te ver acordado em tudo o que escrevi-
porque foi pelo poema que me amaste, o poema foi sempre
o que valeu a pena (o mais eram os gestos que não cabiam
nas mãos, os morangos a que o Verão obrigou); e pudesse

eu deixar de escrever nesta manhã, o dia treme na linha
dos telhados, a vida hesita tanto, e pudesse eu morrer,
mas ouço-te a respirar no meu poema.


Maria do Rosário Pedreira
A POESIA É TUDO
ANTOLOGIA I

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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

A saia

A SAIA DE MARIA FERNANDES

Um escriptor portuguez, discorrendo ácerca dos tributos injustamente postos ao povo, diz que raras vezes deixou Deus, de, providencialmente, mostrar, que lhe desagrada a ve¬xação do povo. E para abonar a sua preposição cita varios factos, e entre outros o seguinte:
EI-rei O. João III lançou um tributo ao povo para as fes-
tas do casamento do principe D. João, seu filho.
Havia então em Montemór-o-Novo uma mulher muito po¬bre dos bens da terra, mas muito rica dos do céo; sua vida era ouvir uma missa pela manhã, resar o seu rosario e vir para casa e fiar linho, com o que se sustentava. Eis que um dia chegam os ministros da justiça, e lhe pediram um tostão, que na finta lhe fôra lançado; disse a mulher que n'aquella casa o não havia, e que isto sentia ella muito, porque desejava servir o seu rei.
Entraram os ministros, e tomaram-lhe uma saia com que ia á missa. Que faria esta pobre mulher? Eram as lagrimas tantas, que parece subiam aos céos os suspiros e as ancias. E foi tanto o excesso da mulher, que chegou aos ouvidos d'el-rei, o qual disse que sua tenção não era vexar aos pobres.
Comtudo o principe morreu em tempo de nove mezes.
Logo a rainha D. Catharina começou a dar taes demonstra¬ções de tristesa, que chegou a se pôr ás contas com Deus.
_ E bem, senhor, oito filhos me levastes, agora este que era o lume dos meus olhos, me arrebataes? Que é is¬to? Que peccados tenho commeltido contra vossa divina magestade?
Ouvindo o rei isto, lhe disse:

- Senhora, não vos queixeis de Deus, não vos matou elle vosso filho. Sabeis quem o matou? A saia de Maria -Fernandes de Montemór-o-Novo.
Observaremos que o escriptor era ecclesiastico, e que não tanto vociferava contra o vexame de injustos impostos. como contra os que se exigiam aos ecclesiasticos e ás pes¬soas que serviam a Deus.
A saia de Maria Fernandes, que o fisco tomára, era aquella com que ia á missa, e por isso o alludido escriptor insiste no caso.
Mas, comtudo, outros exemplos apresenta, que são me¬ras coincidencias casuaes.
Todavia, sempre os portuguezes reagiram contra os tri¬bulos vexatorios, e de que não havia immediata necessidade.

SUMMARIO DE VARIA HISTORIA
NARRATIVAS, LENDAS, BIOGRAPHIAS, DESCRIPÇÕES DE TEMPLOS E MONUMENTOS,
ESTATISTICAS, COSTUMES CIVIS, POLITICOS E RELIGIOSOS DE OUTRAS ERAS
por RIBEIRO GUIMARÃES
1874

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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Takashi Murakami






http://www.nycjpg.com/2003/pages/0909.html
http://www.takashimurakami.net/

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quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

William Blake



Traduzir não acaba:
1 tigre, 2 tigres, 3 tigres, n tigres

MANUEL PORTELA



THE TYGER


Tyger! Tyger! burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?

In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?
On what wings dare he aspire?
What the hand dare sieze the fire?

And what shoulder, & what art,
Could twist the sinews of thy heart?
And when thy heart began to beat,
What dread hand? & what dread feet?

What the hammer? what the chain?
In what furnace was thy brain?
What the anvil? what dread grasp
Dare its deadly terrors clasp?

When the stars threw down their spears,
And water'd heaven with their tears,
Did he smile his work to see?
Did he who made the Lamb make thee?

Tyger! Tyger! burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful symmetry?

William Blake (1794)


O TIGRE (1)


Tigre! Tigre! que ardes a brilhar
Nas florestas da noite sombria,
Que mão, ou que imortal olhar
Pôde formar tua terrível simetria?

Em que abismos, em que céus distantes
Ardeu a chama dos teus olhos brilhantes?
Em que asas é que ele ousou voar?
Que mão ousou esse fogo agarrar?

E que arte, que braço ou mão
Torceu as fibras do teu coração?
E quando esse coração bateu primeiro,
Que mãos, que pés terríveis de ferreiro?

Que martelo? Que corrente?
E o teu cérebro - em que fornalha ardente?
Que bigorna que terrível punho
Agarrou seus terrores e lhes deu cunho?

Quando as estrelas expeliram os seus raios
E inundaram os céus de prantos e desmaios,
Sorriu ele acaso ao ver o teu labor?
É quem fez o Cordeiro o teu autor?

Tigre! Tigre! que ardes a brilhar
Nas florestas da noite sombria,
Que mão, ou que imortal olhar
Ousou formar tua terrível simetria?


Tradução de Paulo Quintela (1981)


O TIGRE (2)


Tigre, Tigre, incêndio forte
arder nos bosques da noite,
Que mão imortal, um dia,
Fez tão feroz simetria?

Em que abismos e em que céus
Arde a luz dos olhos teus?
Que asas quis Ele alcançar?
Que fogo quis agarrar?

E que espádua ou que magia
Teu coração construía?
Quando o viu assim batendo,
Que mão e que pé tremendo?

Que martelo? Que cadeia?
Quem teu cérebro caldeia?
Que bigorna? Que mão forte
Calma teus pavores de morte?

Quando as estrelas dardejam
E, de pranto, os céus alvejam,
Vendo tais obras, sorri?
Fez Ele o cordeiro e a ti?

Tigre, tigre, incêndio forte
A arder nos bosques da noite,
Que mão imortal, um dia,
Fez tão feroz simetria?


Tradução de António Herculano de Carvalho (1947)


O TIGRE (3)


Tigre, tigre, ardendo aceso,
No bosque da noite preso,
Que olhos, que mãos infalíveis
Teus traços criaram terríveis?

De que profundas ou céus,
O lume dos olhos teus?
De que asas el' sonha audaz?
Esse fogo, quem o traz?

Qual arte os nervos te cria
Que ao coração te daria?
Quando a bater começou,
Que pé ou mão foi que ousou?

Que martelo, que bigorna,
A teu cérebro deu forma?
Que fornalha ou força tal,
Para o seu terror mortal?

E os astros lanças largaram,
De seu choro o céu molharam.
Sorriu ele dessa vez?
Quem fez o Anho te fez?

Tigre, tigre, ardendo aceso,
No bosque da noite preso,
Que olhos, que mãos infalíveis
Teus traços criaram terríveis?


Tradução de Jorge de Sena (1971)

relâmpago
Revista de Poesia
n.º 17 10|2005

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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Arte


George Milpurrurru
1993


Anish Kapoor
Marsyas
1990


Richard Serra
Tilted Arc
Nova Iorque
1981


Fiona Rae
Monlight Bunny Ranch
2003


Jonathan Borofsky
Uma das esculturas Hammering Man
Seattle
1984-1985

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domingo, 4 de janeiro de 2009

Bruno Wheinhals

UM NOME PARA TI

um som que te faz ser quando precisares de ti
Para ti uma grafia uma sílaba mais forte
como rosto cabelo andar as pequenas manias

Com o teu nome existes Foste já
inventado para o macio aconchego
da pele ainda não presente

Bruno Weinhals
Uma Conversa Passa Pelo Papel
tradução colectiva

UMA VOZ COMEÇA E EXPANDE-SE

pelas tuas páginas A sombra que ignoras
vai avançando lenta O que refresca a pele
gostaria também de as folhear (pões a mão no livro)

A sombra alcança-te agora Não te incomoda
Mesmo sem solo teu sabor agrada às palavras
bela e fresca e tão curiosa

Bruno Weinhals
Uma Conversa Passa Pelo Papel
tradução colectiva


PAÍS DO MEIO-DIA

Atravessado pelo zumbido de um único ruído de carros
e pela música infinda de uma estação de rádio
o vazio do meio-dia

A cidade uma configuração constituída
por rede de aço e estruturas de betão

Atrás das gruas brilha
a água da bacia portuária
indolente em todas as cores de óleo usado

As ruas varridas
pelo sol recozidas

O apressado asfalto da cidade
um caminho de fuga
para a paisagem pedregosa

Uma língua quente rasga o corpo em suor

As cores são pó
não pó
são pedras

Bruno Wheinhals
Uma Conversa Passa Pelo Papel
e outros poemas
Tradução colectiva

DÁDIVA MATINAL

Um beijo
e estas palavras
ao teu ouvido
na tua boca
possa este peso imposto
ser-te leve

Bruno Wheinhals
Uma Conversa Passa Pelo Papel
e outros poemas
Tradução colectiva

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sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Mendigos



OS MENDIGOS NO SECULO XVI

Antigamente os mendigos constituiam uma classe social reconhecida. Bem póde dizer-se, que se considerava necesssaria a mendicidade ou mendignidade, para que podesse haver caridade. Que, valor teria o caldeirão dos conventos, se não houvera
mendigos? Em quanto as almas piedosas fundavam esplendidos conventos de frades mendigos, emquanto, o acto mais religioso d'essas epochas era fundar e dotar conventos e mosteiros, destinados a receber ociosos,não se tratava de acudir áquelles, que por invalidez proveniente de velhice ou de enfermidade, se viam obrigados a mendigar. Dizia-se com, orgulho, tantos mil pobres recebem a caridade do caldo das portarias, dos conventos, mas ninguem sentia a necessidade de crear e estabelecer hospicios para recolher os mendigos.
Alguns conventos menos, e alguns hospicios ou asylos mais, e a mendicidade não seria tanta; e os verdadeiros desgraçados teriam um abrigo. Haveria menos ociosos de gordo cachaço, porém haveria mais desgraçados soccorridos. Mas a mendicidade era inherente á existencia dos conventos, era portanto natural animal-a e protegel-a. Sem mendigos, os frades deixavam de ser caritativos. Muita gente se lembrará do grande numero de mendigos que vagueavam por essas ruas, antes de 1834, e que todos os dias, pelo meio dia, se juntavam nas portarias dos conventos. Todos se recordam das ascarosidades que, em constante exposição e no meio de grandes alaridos, percorriam a cidade. Era um espectaculo ignobil e um documento tristissimo da atrasada civilisação d´esses tempos.
Acudiram-nos estas reflexões, lendo em um livro antigo, que os mendigos tinham n'esta cidade tres confrarias, sendo duas d'estas a do Senhor Jesus, na freguezia de Santo André, que era dos cegos, e a de Santo Aleixo, na Misericordia, que era universal. Concorriam os mendigos, reunidos nas suas confrarias, a varias funcções publicas - d'isto subsistem documentos - e usavam levar nas mãos cannas verdes.
Quando no anno de 1588 foram transferidas as famosas relíquias existentes na egreja da Misericordia para a casa professa dos jesuitas de S.Roque, os mendigos figuraram no acto. A trasladação das reliquias,que ainda hoje estão na egreja de S. Roque,
verificou-se com grande solemnidade no dia 25 de janeiro d'aquele anno, e no dia 27 sahiram os mendigos procissionalmente, dirigindo se á egreja de S. Roque.
O licenciado Manuel de Campos, na sua Relação do solemne recebimento das Santas Reliquias, assim descreve a procissão dos mendigos:

«Os pobres, que por causa das suas doenças e aleijões, não tinham facil entrada para se irem offerecer ás santas reliquias, acharam invenção para se lhes dar logar... n´esta procissão iam as mulheres de' uma parte, e os homens de outra com umas
cannas verdes nas mãos, com capella de canto de orgão e charamellas que houve a confraria de Santo Aleixo, cuja imagem traziam em uma charola, por serem seus confrades,cousa muito nova, e de grande consolação vêr quasi todos os pobres de Lisboa, juntos em piedoso exercicio, virem a visitar as santas reliquias como fizeram.»
Outra menção se acha da confraria dos mendigos figurando em actos publicos.
Quando o arcebispo de Lisboa, D. Rodrigo da Cunha, regressou a Lisboa da sua viagem a Madrid, fez a sua entrada solemne na capital, no dia 21 de maio de 1639. O arcebispo foi procissionalmente da egreja da Misericordia para a Sé, e os mendigos
figuraram no prestito como confraria. D. Manuel Caetano de Sousa no seu Catalogo Historico, diz o seguinte, alludindo á solemne entrada do arcebispo D. Rodrigo da Cunha:
«0 que fez que esta procissão fosse um glorioso triumpho d'este prelado, foi que iam n'elle todos os pobres da cidade com cannas verdes na mão, mudas as linguas mas chorando os olhos e saltando os corações de alegria.»
Convem, saber que Santo Aleixo,que os mendigos tomavam por patrono, foi um homem muito original. Era natural de Roma, e filho de um senador.
Como viesse a casar na primeira noite fugiu da esposa, deixando-a intacta e foi-se a perigrinar pelo mundo; depois regressou a Roma, e esteve recolhido em casa de seu pae, em habito de pobre, zombando do mundo, diz um escriptor, com esta nova
invenção. Mas depois de morto descobriu-se a farça do bom homem, que demais a deixou declarada em um escripto seu, e isto bastou para que o canonisassem, e assim os mendigos de Lisboa o escolheram para seu padroeiro
É facil de imaginar o que seria a antiga mendicidade, tendo um modo de vida auctorisado; todos os mandriões a vadios se alistavam n´essas confrarias. Victor Hugo, no seu maravilhoso romance Notre Dame de Paris, descrevendo a Côrte dos Milagres, desenha com vivas côres todos os artificios da mendicidade, e como os miseraveis que especulavam com a caridade publica, se caracterisavam para a comedia que diariamente representavam. Assim devia de acontecer em Lisboa, onde o ser mendigo era uma profissão, e onde quantos mais mendigos houvesse, maior era a gloria da religião e maior a honra para os frades.

SUMMARIO DE VARIA HISTORIA
NARRATIVAS, LENDAS, BIOGRAPHIAS, DESCRIPÇÕES DE TEMPLOS E MONUMENTOS,
ESTATISTICAS, COSTUMES CIVIS, POLITICOS E RELIGIOSOS DE OUTRAS ERAS
por RIBEIRO GUIMARÃES

1872

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