quarta-feira, 31 de março de 2010
terça-feira, 30 de março de 2010
segunda-feira, 29 de março de 2010
domingo, 28 de março de 2010
OSSIP MANDELSTAM
Se as pessoas não falarem comigo,
Se de tudo e de todos for privado:
Do direito a respirar e abrir as portas,
Do direito a afirmar que haverá vida
E que, como juiz o povo julga -
Se me tratarem como a um animal,
Se me atirarem a comer prò chão -,
A dor não amordaço, não me calo,
Mas o que for de desenhar, desenho,
E ao abalar o sino nu dos muros,
Ao despertar o canto escuro inimigo,
Vou atrelar dez bois à minha voz
E no escuro o arado enterro e guio -
E nas profundezas da noite, noite alerta,
Olhos se acendem para a terra fértil,
E pois na hoste de fraternos olhos apertado,
Co peso de toda a colheita eu cairei,
De impetuoso juramento é a seara -
E romperá de anos ardentes uma alcateia,
Como tempestade madura vai Lenine
Murmurar. Não haverá putrefacção na terra,
Assassinará razão e vida o Estaline.
Fevereiro-Março de 1937
(1891-1938)
Guarda Minha Fala para Sempre
tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra
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José Carlos Barros
Contra a vociferação e o desmando
me movo (dirias, se contra algo
te movesses) dum século feito para
a devastação de nomes e moradas
que pouco a pouco se foram erguendo
entre a vagarosa aluvião do ouro e
sucessivas normas desvendadas
na decifração dos códices. Na fuga
deslumbrada e cega, por onde
o mar começa a invasão dos campos,
só restos persistem do que foi um dia
a casa e sua sebe de loureiros num
quintal abandonado à torpe insinuação
de prédios altos na distância.
José Carlos Barros
Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa
Coordenação de Pedro Mexia
O Contador de Histórias
Câmara Municipal de Tomar
1997
Etiquetas: poesia/poetry/poesie
Joaquim Cardoso Dias
descobri quem reúne as formas entre as pedras
as horas acesas no peso dos corpos
a secreta loucura dos sentidos quando brincas com os meus
cabelos
quase sempre assim um coração
que escutámos sem mais nada e as cordas dos barcos por ali
onde terás olhado por última vez o pó riscado pelos meus
dedos
que destino nos revela a mão sem linha da vida
a gaveta das cartas fechada para sempre?
um dia quem sabe tu e eu com óculos escuros
lá onde falarás de mim
a luz seca na orla desértica da cidade
fecho aquela porta verde que dá acesso ao teu rosto
choro baixinho sou um animal ferido pelas paredes do
quarto
agora tudo é muito diferente
fumamos deitados de luz apagada tento dizer-te o sítio exacto
dos móveis dos objectos fendas de terra cidades costeiras
pássaros
frágeis caminhos desvendados em pleno voo
como breves recados escritos à pressa
e neste instante a avenida parece-me um barco
deste lado de mim as árvores andam comigo numa lágrima
se tu quiseres podes sentar-te na minha cama
podes vestir os slips brancos e a t-shirt que me ofereceste
pelos anos... mesmo que digas coisas que me
mesmo que nem te olhasse para que
mesmo que
tenho a certeza de que serias tu depois a procurar-me
podes sim
a Solana vai gostar Years are bearing us to heaven...
viro-me para a terra
dói ser-se circular dói aqui
despindo-me contigo nos olhos deste lado do mundo...
je murmure un mot magique pour m'en délivrer
aceito como único sonho aquele espelho onde te reflectes '.
e isto tudo é assim porquê?
como entender a maneira como Deus nos dispõe no
mundo?
... é do frio ris-te
levas-me pelos ombros
e todos os segredos são este instante... se tu quiseres
o fim dos meus lábios nos vidros das montras do Amoreiras
esta noite vou dormir de luz acesa
(Este é, talvez, o poema da página 566 de O MEDO, de Al Berto)
Joaquim Cardoso Dias
Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa
Coordenação de Pedro Mexia
O Contador de Histórias
Câmara Municipal de Tomar
1997
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Nuno Artur Silva
Porque já cai a chuva minuciosa.
Cai ou caiu. A chuva é uma coisa
Que sem dúvida sucede no passado."
Jorge Luís Borges
I
Algo entre a lua e a manhã - o teu corpo?
O meu segredo.
Imperceptível, o mar, noite após noite, inunda-me o corpo.
Um barco atravessa o outono. E é o longínquo tactear o teu
nome.
II
A chuva, outra vez, a chuva - tu dizias - a chuva.
E já não há espaço para a nossa nudez. Já não há que não o
mar.
O esquecido coração. O crepúsculo entreaberto. O meu
corpo?
Há ainda a chuva, a chuva - tu dizias - a chuva.
Vestígio de uma ave que se perdeu no teu corpo - a ferida do
meu corpo.
III
A chuva é onde acordo sem
o teu corpo. É quando a noite
não existe mais a não ser através
da memória: cidadela
por onde soa o coração.
Nuno Artur Silva
Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa
Coordenação de Pedro Mexia
O Contador de Histórias
Câmara Municipal de Tomar
1997
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sábado, 27 de março de 2010
RONALD STOOPS
INGE GROGNARD MAKEUP FOR JURGI PERSOONS PHOTOGRAPHED BY RONALD STOOPS
http://www.someslashthings.com/blog/
Etiquetas: fotografia
sexta-feira, 26 de março de 2010
segunda-feira, 22 de março de 2010
domingo, 21 de março de 2010
Dia Mundial da Poesia
Ei-las
4 -
Amo-te
— diríamos nós,
no exacto instante de lhe cravar o punhal
no meio do peito.
E depois
desejaríamos que se fizesse luz,
uma grande luz branca,
o sol,
para vermos o sangue correr e,
possivelmente,
afogar a nossa boca no sangue amado.
Para conhecermos tudo,
até ao fundo
e até ao fim.
Porque o amor e o conhecimento
são as artes do crime.
Tenho um ramo de flores para ti,
diz o amante:
são flores, venenosas.
Mas toda a gente sabe isto:
ninguém deseja nada do amor.
É o tema eleito das palavras.
Eis a razão por que o outro
está escondido na praça,
ao meio da qual existe um largo fontanário,
com a sua rodada taça de pedra,
de onde transborda uma água
silenciosa e dormente.
A brasa do cigarro
marca uma curva no ar
e cai na água.
É um indício.
Ele está ali, bem perto.
Mas depois
tudo será mais difícil.
Porque
será a perseguição declarada,
sem o pretexto de pedir lume.
Também não haverá já
a indicação do lume, no meio da noite
o sinal de que ali está a pessoa,
viva,
fumando,
respirando,
tremendo.
Porque foges?,
e enquanto,
no mais secreto da sua aflição,
ele o pergunta,
corre em direcção ao fontanário
e quase esbarra com o outro.
Sentem-se,
mútuos,
únicos,
arfam no escuro da praça,
a treva treme levemente
na água adormecida.
Mas ele diz
(e quem sabe se isso é absurdo?)
diz: lume,
e o outro escapa-se,
e põe-se a correr em volta
do fontanário.
Os sapatos
chapinham na água e a ele,
que já começou a persegui-lo,
correndo também em torno da taça de pedra,
chapinhando do mesmo modo
na água vazada,
ocorre-lhe um insólito pensamento:
caminhamos sobre as águas.
Então abranda um pouco a corrida,
inclina o corpo para a direita,
e mete a mão na água da taça.
É um ruído novo,
virgem,
e o contacto da sua carne com a água
faz nascer em si uma confusa alegria,
o sentido de uma festa natural,
o desejo de morrer ali,
agora,
triunfalmente.
E o outro?
o outro foge,
e como não abrandou o passo,
nem mergulhou a mão na água,
nem pensou (supõe-se) na alegria
de uma festa mortal,
o outro adiantou-se,
e já se encontra no lado oposto
do fontanário.
E é ágil,
essa criatura sem nome,
o ser que se ama,
aquele que se persegue
e a quem se deseja conhecer,
para suplicar lume,
ou voz,
ou vida,
ou sangue,
ou sabe--se lá o quê.
Corre depressa demais.
E andando em círculo,
chapinhando sempre na água,
e às vezes pensando ainda:
caminhamos sobre as águas,
ele sente,
súbito,
que o outro avançou bastante.
Treme de medo,
porque o outro avançou tanto
que já ultrapassou o ponto onde,
com o ponto onde ele se encontra,
formava os extremos do diâmetro
do círculo.
E isto significa:
o outro é agora o perseguidor.
E, como avança cada vez mais,
torna-se cada vez mais no perseguidor,
e ele no perseguido.
Talvez o outro pense:
porque foges?,
e lhe queira pedir a sua voz,
o seu amor,
o seu sangue.
É quando sente perto da nuca
a respiração do outro.
Tem tempo apenas para desviar-se,
correr para a esquerda,
atravessar a praça
e meter por uma ruela negra.
Mas, parando um instante,
ouve os passos do outro na sua direcção.
E então foge através do bairro,
do tempo,
de pedra em pedra,
com o seu pavor de animal perseguido,
ouvindo o bater implacável
dos pés do outro.
Haveria palavras para ouvir,
a antiquíssima súplica do perseguidor:
porque foges?
E que poderia ele dizer?:
tenho medo?
Não se sabe bem o que acontece.
As palavras nunca mais acabariam,
enredar-se-iam umas nas outras,
seria um jogo mortal.
Não mais haveria
a suspensão do irremediável,
esta espécie de silêncio na beira do crime,
no qual sabemos,
com dor,
que ainda estamos vivos.
Ele foge.
Quem sabe
se a noite terá fim?
Herberto Hélder
O MEU POVO
Apodrece o rochedo
De onde provenho
E a quem entoo os meus cânticos sagrados...
Subitamente, caio do caminho
E começo a brotar interiormente
Para a distância, só, sobre pedras de lamentação,
Em direcção ao mar.
Jorrei-me para tão longe
Do mosto mal fermentado
Do meu sangue.
E sempre e ainda o eco
Dentro de mim,
Quando, voltado para Oriente,
O corpo de rochedo apodrecido,
O meu povo,
Lança um grito terrível para Deus.
ELSE LASKER-SCHÜLER
1869-1945)
Alemanha
POR DETRÁS DE STOWE
Ouvi um duende que passava a assobiar,
um assobio suave como a erva iluminada pela lua,
que me atraiu como um cordão de prata
para onde as borboletas pálidas e poeirentas voam,
e trazem magia enquanto passam;
e ali ouvi um grilo a cantar.
o seu canto ecoava de uma ponta à outra
da escuridão sob uma árvore batida pelo vento
onde reluziam as asas de pequenos insectos.
O seu canto fendeu o céu em dois.
As metades caíram à minha volta,
e fiquei hirta, resplandecente com os anéis da lua.
Elizabeth Bishop
(1911-1979)
E.U.A.
TRAD.: MARIA DE LOURDES GUIMARÃES
BALADA DA VIDA EXTERIOR
E crianças crescem com olhos fundos,
Que nada sabem, crescem e logo morrem,
E toda a gente segue o seu caminho.
E frutos doces saem dos amargos
E caem de noite, pássaros mortos,
E ali ficam uns dias e apodrecem.
E o vento sopra sempre, e sempre nós
Ouvimos, dizemos muitas palavras
E sentimos prazer, membros cansados.
E estradas cortam campos, e lugares
Há-os aqui e ali, com luzes, árvores, lagos,
E ameaçadores, secos, já mortos...
Quem os ergueu? Para quê? Nenhum é igual
Aos outros. E são tantos, não têm fim...
Que mão nos manda riso, choro, pavor?
De que serve tudo isso e estes jogos,
A nós, já grandes e eternamente sós
E sem buscar um fim nesta jornada?
De que serve ter visto tanta coisa?
E afinal muito diz quem só diz «noite»,
Palavra de onde escorre triste melancolia
Como mel espesso de favos vazios.
HUGO VON HOFMANNSTHAL
(1874-1929)
Áustria
TRAD.: JOÃO BARRENTO
Rosa Do Mundo
2001 Poemas para o Futuro
Assírio & Alvim
MEU TÚMULO
No topo da serra distendem minha tumba,
Entre uivos de lobo e sons de folhas de chumbo.
Tormentas de verão e a neve da invernada,
Em trilha isolada que em silêncio me guarde.
Ponham-me bem alto, como a nuvem e o trono,
Para que não chegue o distante som do sino,
Para que não chegue o arrependimento a voz,
Nem mesmo as rezas e o temor do converso.
E que ela verdeça junto ao tronco espinhoso,
Bem intransponível, vergada sobre o abismo.
E que ninguém possa vir, somente os amigos,
E estes, no regresso, que os seus rastros apaguem.
Ivan Goran Kovacic
(1913-1943)
Croácia
TRAD.: ALEKSANDAR JOVANOVIC
Rosa Do Mundo
2001 Poemas para o Futuro
Assírio & Alvim
A ROSA
A rosa
A rosa
A rosa
Ele levou-me a um roseiral
E, no escuro enfiou uma rosa nos meus cabelos excitados
Por fim
Dormiu comigo sobre uma pétala de rosa.
Oh vós, pombas deformadas
Oh vós, árvores inexperientes, velhas e estéreis
janelas cegas
Debaixo de meu coração e nas profundezas de minha bacia
Brota agora uma rosa
Uma rosa vermelha
Vermelha
Como uma bandeira no dia da
Ressurreição.
Ah, estou grávida, grávida, grávida.
FORUGH FARROKHZAD
(1935-1967)
Irão
Trad.: Kurt Sharf
Rosa Do Mundo
2001 Poemas para o Futuro
Assírio & Alvim
O BALCÃO DAS NOVE DA TARDE
do teu vivo desejo quase não sabes que dizer
se os passos se encurtam ou alargam na ferida
quase não sabes que alcançar seus seios
é um primeiro sonho
que morre se não murmura o rouxinol.
a quem podes, então, tu perguntar
senão a essas ignaras lonjuras?
e quem pode saber qual é a senda
até esse rouxinol calado das nove
se o seu balcão perdido se fechou
entre a sombra e as palmeiras?
oh balcão enverdecido, extraviado
e enigmático pelas nove!
não ficarão as flores, não estarão o amante e a guitarra,
não ficarão os versos
perguntando pela princesa totalmente adormecida.
no balcão que se desmorona
ainda que sejam nove da tarde.
SAADI YUSUF
(n. 1934)
Iraque
TRAD.: ADALBERTO ALVES
Rosa Do Mundo
2001 Poemas para o Futuro
Assírio & Alvim
Nada duas vezes
Duas vezes nada acontece
nem acontecerá. E assim sendo,
nascemos sem prática
e sem rotina vamos morrendo.
Nesta escola que é o mundo,
mesmo os piores
nunca repetirão
nenhum Inverno, nenhum Verão.
Os dias não podem ser repetidos,
não há duas noites iguais,
não há dois beijos parecidos,
não se troca o mesmo olhar.
Ontem, o teu nome
em voz alta pronunciado
foi como se uma rosa
me tivessem atirado.
Hoje, ao teu lado
voltei a cara para a parede.
Rosa? O que é uma rosa?
Será flor? Talvez rocha?
Porque tu, ó má hora
me trazes a vã tristeza?
Se és, tens de passar.
Passarás - e daí a tua beleza.
Abraçados, enlevados,
tentaremos vencer a mágoa,
mesmo sendo diferentes
como duas gotas de água.
in "Wotanie do Yeti"
(Chamada para Yeti). 1957
Wislawa Szymborska
Czeslaw Milosz e Wislawa Szymborska
Alguns gostam de poesia
Antologia
Selecção, introdução e tradução do polaco
Elzbieta Milewska e Sérgio das Neves
cavalo de ferro
TEM CUIDADO COM O QUE DIZES, MENINA
Tem cuidado com o que dizes, menina,
quando usas as palavras para conversar, as palavras -
pois as palavras são feitas de sílabas
e as sílabas, menina, são feitas de ar-
e o ar é tão fino - o ar é o sopro de Deus -
o ar é mais delicado do que o fogo ou a neblina,
mais delicado do que a água ou o luar,
mais delicado do que as teias de aranha sob a lua,
mais delicado do que as flores aquáticas de manhã:
e as palavras são fortes também,
mais fortes do que os rochedos ou o aço,
mais fortes do que as batatas, o milho, peixe, gado,
e delicadas, também, delicadas como ovos de pomba,
delicadas como a música das asas dos colibris;
assim, menina, quando proferires saudações,
quando contares anedotas, exprimires desejos ou
disseres orações,
sê cuidadosa, sê descuidada, sê cuidadosa,
sê o que te apetecer.
Carl Sandburg (1878-1967)
Antologia de poesia anglo-americana
De Chaucer a Dylan Thomas
Selecção, tradução, prefácio e notas de
António Simões
Campo das Letras
ONTEM
Ontem toda a manhã foi quarta-feira.
Pela tarde mudou:
pôs-se quase segunda,
a tristeza invadiu os corações
e ouve um claro
movimento de pânico para os
eléctricos
que levam os banhistas para o rio.
Por volta das sete houve no céu
uma lenta avioneta, e nem as crianças
a olharam.
Desatou-se
o frio,
alguém saiu à rua com chapéu,
ontem, e todo o dia
foi igual,
vede lá,
que divertido,
ontem e sempre ontem e assim até agora,
continuamente andando pelas ruas
gente desconhecida,
ou dentro de casa a merendar
pão e café com leite, - que
alegria!
A noite veio cedo e acenderam-se
candeeiros cálidos e amarelos,
e ninguém pôde
impedir que por fim amanhecesse
o dia de hoje,
tão parecido,
mas
tão diferente em luzes e aroma!
Por isso mesmo,
porque é como vos digo,
deixai-me que vos fale
de ontem, uma vez mais
de ontem: o dia
incomparável que já ninguém nunca
voltará a ver jamais na terra.
Angél Gonzalez
Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea
Selecção e Tradução de José Bento
assírio e alvim
1985
PEQUENO POEMA INFINITO
Enganar-se no caminho
é chegar à neve
e chegar à neve
é pastar durante vinte séculos as ervas dos cemitérios.
Enganar-se no caminho
é chegar à mulher,
a mulher que mata dois galos num segundo,
a luz que não teme os galos
e os galos que não sabem cantar sobre a neve.
Mas se a neve se engana do coração
pode vir o vento austro
e como o ar não faz caso dos gemidos
teremos de pastar outra vez as ervas dos cemitérios.
Eu vi duas dolorosas espigas de cera
que enterravam uma paisagem de vulcões
e vi dois meninos loucos que empurravam chorando as pupilas de
um assassino.
Mas o dois não foi nunca um número
porque é uma angústia e a sombra,
porque é a guitarra onde o amor se desespera,
porque é a demonstração de outro infinito que não é seu
e é as muralhas do morto
e o castigo de uma nova ressurreição sem nenhum final.
Os mortos odeiam o número dois,
mas o número dois adormece as mulheres
e como a mulher teme a luz
a luz treme diante dos galos
e os galos só sabem voar sobre a neve
teremos que pastar sem descanso as ervas dos cemitérios.
FEDERICO GARCÍA LORCA
1898-1936
MESA DE AMIGOS
versões de poesia
por
Pedro da Silveira
A CABRA CONTEMPORÂNEA
A cabra come as rosas dos jardins municipais
trinca os eléctricos como cenouras cruas
não vai de manhã para o escritório
não lê o jornal da tarde
despe os pilares do telégrafo como amoreiras
ignora os semáforos sem vergonha
não deseja ter limusine e juro:
ainda não patenteou a erva artificial
embora perceba alguma coisa de florestas.
A estátua da baixa foi mudada
a cidade embala-se num baloiço de fumo
apenas esta cabra teimosa
dá leite e não pergunta como.
Mircea Dinescu
Em voz alta
Poesia & Performance
Porto 2001
Campo das Letras
Numa cor mais alegre mais aberta
rasa de luz se abre a nova rosa
alisa as suas pétalas que elidem o tempo
grácil na sua leveza pura adolescência
sinal de um momento anúncio de um sim
promessa de um sempre que o Deus ausente
consuma e liberta porque essa ausência é fértil
na profusão invisível do seu arco de luz
Dele solta uma flecha pura vibração
que todos os espaços livre atravessa
e cumpre ao soltar-se a pausa
de uma coluna nenhuma esperança é vã
na duração obscura o bálsamo derrama-se
nas atormentadas cabeças quem vacila ganha
o formoso vigor dos seus primeiros passos
Extremo sortilégio o dessa mão sem mão
o desse coração aberto como nascente
o desse olhar sem olhos o dessa palavra sem som
O eco que se molda é absoluta transparência
o ardente esplendor traça os seus contornos
a lucidez respira esse momento solar
na permanência exclui todo o anónimo fluir
e cada ser é novo na novidade do seu nome
Maria Teresa Dias Furtado
25 de Março de 1993
ME AND MY GIN
Bessie, áspero nome de mulher.
Houve quase nunca mas mesmo assim houve
quem com fúria cantasse o excesso.
Vozes todas que há muito se calaram. Quem
puder que ignore o seu grito - é a
frivolidade das coisas que nos dizima,
enquanto a alma, indiferente, se
senta numa cadeira eléctrica
parecida com o tempo.
Tão sedutor esse pecado, a ferida
inocência de ver o mundo
através do vidro fosco de uma garrafa,
sabendo que a extrema-unção será
um trombone desvairado.
É teu o meu gin, as mãos que desfalecem
em canções muitas vezes impossíveis.
O inferno, a voz torturada
onde um apelo cessou:
Can't you hear me bleeding?
You've got to give me some.
Manuel de Freitas
poezz
Jazz na Poesia em Língua Portuguesa
José Duarte | Ricardo António Alves
Almedina
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sábado, 20 de março de 2010
Ivan Schneedorjer
On se rassemble sur une vaste étendue
au bord de la ville
On se reconnaît vaguement
Pourquoi si timides? Nul nom
Chacun prend soin de son cerf-volant
Le ciel en est plein ..
Le premier cerf-volant s'est détaché
et disparaît comme un point dans le lointain
À qui le prochain tour?
En fin de compte le regard qu'on lève
vers le ciel pur comme balayé
est même impatient
notre regard de gris temoins
des étendues vastes
Ivan Schneedorjer
Anthologie de la poésie tchèque contemporaine
1945-2000
Poésie/Gallimard
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quinta-feira, 18 de março de 2010
Arshile Gorky
Is there another life in American art to compare to Arshile Gorky's? His arc from struggle to breakthrough to tragedy is slow, then swift, then dazzling and finally devastating. In the seven or so years before he took his life in 1948, he produced some of the greatest, most explosive works of the 20th century, a synthesis of Surrealism and abstraction that unlocked voluptuous new possibilities for painting and opened the way to Abstract Expressionism. It wasn't a long life, but it was lit by fire.
Though it's been almost three decades since the last Gorky retrospective, the big new show at the Philadelphia Museum of Art was worth the wait. Organized by Michael R. Taylor, the museum's curator of modern art, it has final galleries so triumphant, you want to throw your hat in the air, even though you know — and how could you forget? — that this is a story that will end where it began, in darkness. (Watch TIME's video about Arshile Gorky.)
Gorky was born Vosdanig Adoian in Khorkom, a village in Turkish Armenia. In his early 20s he adopted a new name — Arshile (Russian for Achilles) Gorky (in homage to the Russian writer Maxim Gorky). He may not have known that gorky means bitter in Russian, but he was certainly acquainted with bitterness. He had arrived in New York City in 1920 as an 18-year-old refugee from the Turkish campaign of atrocities against Armenians. One year earlier, his mother had died of starvation in his arms. In adulthood, from 1926 to 1942, he obsessively reworked two haunting double portraits that showed them side by side — he the tentative 10-year-old; she an impassive totem, forever out of reach beneath waves of nostalgia.
All through his 20s and 30s, Gorky devoted himself to a complete, nearly self-annihilating immersion in the work of one master after another. Cézanne, Picasso, Miró, Léger — he sometimes channeled their voices like a ventriloquist's dummy, but he learned their language. His breakthrough came in the 1940s, partly by way of his contact with the Surrealists in wartime exile in New York City, especially André Breton and Roberto Matta. Gorky had been borrowing Surrealist imagery for years, and he flourished in their company. It was through Matta that he renewed his interest in the Surrealist notion of automatism, a means of relinquishing conscious control of the hand to let it discover images that flowed from the unconscious. With that, some key turned inside him, allowing him to translate impressions of nature and the body and childhood memories of Armenia into an abstract language of longing and release. (See TIME's photo-essay "Cézanne and Beyond.")
Where once there had been something congested and strenuous about Gorky's paint application, his clotted surfaces began to give way to Matta's thin washes of color. And now there's a slender, buoyant new line that darts all around the canvas, lightly defining swelling forms, with borders as thin as soap bubbles', just tight enough to create a sense of release when bursts of red or yellow pop them. You sense that this is the bouncing, eternal line of freedom and pleasure, one that traces back to the airborne arcs of those young women on swings in Fragonard.
For most of his last years, Gorky went from strength to strength, making lush, abundant pictures like The Liver Is the Cock's Comb, his 1944 masterpiece in which pools of color supply a world where turbulent figures claw the air. But once the bad times began, they never quit. In 1946 a fire in his Connecticut studio destroyed more than 20 paintings. Then came rectal cancer and a car accident that left his painting arm temporarily immobilized. Then his wife left him, taking the kids. In despair and constant pain, he hanged himself. He was only 46 — a short life, but long enough to be a hinge that history turned on.
domingo, 14 de março de 2010
Emil Holmer
Emil Holmer, "Hole world dust", 2009. Oil, enamel-spray, charcoal on canvas, 200 x 250 cm / 78,7 x 98,4 inches.
Etiquetas: pintura
JEAN FERRAT
JEAN FERRAT foi-se embora
"Ferrat est le chanteur d’une cause, celle de l’amour. Amour des femmes, mais aussi de ceux qui luttent contre l’oppression, pour un monde plus juste. Chanteur amoureux et engagé, il troque rapidement la guitare pour le grand orchestre qui accompagne sa voix chaude et pleine. Parolier et compositeur, il interprète aussi les poètes, Aragon surtout, « compagnon de route » comme lui du P.C.F.
Jean Tenenbaum, quatrième et dernier enfant de la famille, naît le 26 décembre 1930 à Vaucresson (Hauts-de-Seine) d’un père artisan-joaillier d’origine caucasienne, et d’une mère ouvrière dans une fabrique de fleurs. En 1942, les Tenenbaum portent l’étoile jaune ; le père, déporté, meurt à Auschwitz. Après la guerre, Jean entame des études de chimie. Il joue de la guitare dans un orchestre de copains (jazz style New Orleans) et chante les chansons de Prévert, de Francis Lemarque, de Montand.
La carrière
Au début des années 50, il compose ses premières chansons, auditionne dans les cabarets et décide de se lancer dans la chanson. Il se produit à L’Echelle de Jacob, au Port du Salut, au Vieux Colombier, et rencontre Christine Sèvres qu’il épouse en 61. Lorsqu’il fait la connaissance de l’éditeur Gérard Meys, il découvre un ami, un collaborateur et un associé. Les deux hommes ne se quitteront plus. Ma môme (Decca), la première réalisation sous la direction artistique de G. Meys, est un succès. Ferrat écrit des chansons pour Zizi Jeanmaire qui l’engage dans son spectacle à l’Alhambra. En 1963, le 33-tours Nuit et Brouillard, La montagne (Barclay) obtient le Prix de l’Académie Charles Cros. Sa carrière est lancée. En 66, Ferrat tient l’affiche à Bobino. Suivent des spectacles (Palais des sports en 1970 et 72) et des tournées en France et à l’étranger. Puis Ferrat décide d’abandonner la scène et se retire en Ardèche en 1973. Il continue néanmoins d'enregistrer (La femme est l’avenir de l’homme, Le bilan). En 1990, la SACEM lui décerne la médaille d’or de la chanson française.
L’engagement
Le combat des hommes contre l’oppression, pour la justice et l’égalité sociale inspire à Ferrat un grand nombre de chansons. De Nuit et brouillard (1963), où il rend hommage aux déportés des camps de concentration nazis, jusqu’à Dans la jungle ou dans le zoo (1991), il est en prise sur l’actualité du monde et prend position provoquant souvent la polémique. Compagnon de route, indéfectible mais souvent critique, du P.C.F, Ferrat chante ses révoltes (Potemkine), ses espoirs (La matinée, Cuba si), ses déceptions (Camarade, Le Bilan).
Fou de poésie
Les Yeux d’Elsa (1956) est sa première chanson sur un poème d’Aragon. En 1973, Ferrat chante Aragon se vend à plus de deux millions d’exemplaires. Dans Ferrat 95, il chante seize nouveaux poèmes d’Aragon. Dès son second 45-tours (1959), avec Ma môme, Ferrat chante le grand poète espagnol Federico Garcia Lorca, poète qu’il mettra dorénavant souvent en musique.
« Je ne chante pas pour passer le temps »
Poésie et engagement sont pour Ferrat deux facettes d’une même expression de l’amour des femmes et de l’humanité. Ses chansons mêlent poésie, amour (Les saisons), sensualité, tendresse (Berceuse), colère, hommage aux humbles et aux opprimés (Ma France), aux combattants de la liberté (La Commune)."
sábado, 13 de março de 2010
Laura Moniz
soletrar
para ter a palavra mais perto da coisa que ela é
para que não sobrem enganos
e mal entendidos sentidos
não adejem sobre seus imensos planaltos e colinas
de perfeição
soletrar
para ter 0 som mais perto da abstracção
para que não se afogue 0 silêncio
e 0 altar sagrado do pensamento
não esqueça
que nome deu ao sol
e à desconhecida flor
da interrogação
que cresce ainda sobre as praias de inverno
em forma de mandrágora traída a uma jarra
Laura Moniz
As horas em redor
iha 5
Funchal 500 anos
7 Dias 7 Noites
2008
Etiquetas: poesia/poetry/poesie
Irving Penn e Collette
Irving Penn. Collette, Paris. 1951.Gelatin silver print, 13 9/16 x 12 13/16” (34.4 x 32.5 cm). The Museum of Modern Art, New York. Gift of the photographer. Copyright © 1954 (renewed 1988) Condé Nast Publications
Etiquetas: fotografia
sexta-feira, 12 de março de 2010
Joaquim Manuel Magalhães
A nuvem bulhenta / messe da azáfama
na proa de palha. / Ferrugem, derrame
a Cassiopeia? / e a Orion?
à ré o tufão / um hino e o orbe
poliedro mole / no tonel de um bombo.
Flamante retorta / gérmen prodígio
numa frigideira / a touca macela.
O circo do feno / lugre tropical
bolota, unguento / bigode, piolho
uma coca-cola?
Monadologia / papa revulsiva
e no alambique / missanga aquilina
a sensaboria. / Carimbo latrina
na laia reclame / a aceleração
adia irridente / uma gargalhada
à consignação.
O cílio da fibra / do protozoário
lamela, bactéria / no indefinido
o suco da amiba. / Retouça garrido
um exato mito. / Rumba do andaime
vitima, arquivo / a lava da síntese.
Joaquim Manuel Magalhães
Um Toldo Vermelho
Relógio d´Água
2010
Etiquetas: poesia/poetry/poesie
Mariano Peyrou
podes fazer várias coisas com esta árvore
cobri-la com uma cor original ou desenhá-la na tua mente como se fosse um rio
podá-la com as unhas até modificares a tua percepção do tempo
calcular a sua altura e enganares-te sem te dares conta
podes cheirá-la como se pensasses sem palavras
esconder as suas raízes debaixo da terra e pintar de verde a mais
sentar-te em cima do que foi a sua sombra e esperar que se faça dia
defini-la para que seja ao mesmo tempo bela e artificial
inventar um incêndio e salvá-la
trocá-la pelo direito a deslocares-te no prado
transformá-la em papel e descrevê-la de uma forma diferente em
caminhar em círculos à volta de qualquer das árvores vizinhas
picá-la com um alfinete para constatar que não se queixa
ter uma longa conversa à luz dos seus pássaros e descobrir que abriga tantas contradições como asas
podes tomá-la como exemplo num ensaio sobre a horizontalidade
amá-la compassivamente pensando nos poderosos ventos que trouxeram das estrelas a matéria que a forma
apalpar a sua rugosidade com cada um dos dedos ou com a
palma inteira da mão
o que não podes fazer é entendê-la
Mariano Peyrou
O Discurso Opcional Obrigatório
Tradução de Manuel de Freitas
Averno - 2009
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ANDI NACHON
1
Um movimento, súbito
não resta nada. Ou quatro
quando você abre os olhos e está a meu lado,
trezentas e quarenta e três: entre mão
e jarra, do nariz ao vidro
de sua janela - mais
oitenta? -. E os outros, atravessando luz
consistências do ar, seu peso: apenas
outra série de ações
de nenhuma parte a lugar nenhum
n movimentos ou o único
pacto que você manterá.
5
Alminha, levante-se. Como se pudesse
baixar o volume, sossegasse tumultos
para que não doesse, não se alcançasse esse
umbral onde tudo
faz doer. Alminha: um tempo
para você não ser, perder o pêndulo
firme do jogo, sua cláusula vermelha
"cada um faz
o pouco que pode". Saiamos daqui
mais claramente, saiamos dessa. Alminha, que coisas
os dias negociam. Digamos querida
não existe clemência
em vozes pequenas, minha vida minha alma
celebremos ameixas
damascos e peras. Dizia, ai minha, um tempo
para você não ser, o minuto em que todos
fazemos
este pouco que resta.
18
Há uma guerra prestes a estourar dizem. Antes
caminhei downtown, sob amoreiras
agora douradas e me detive sobre seu canto
calafrio que conta este
princípio de outono
nos últimos dias de verão. Dizem, lá fora há coisas
por explodir, assuntos
para além das amoreiras e súbitos
declínios do verão, seu estrondo
submerge a copa das árvores e você
em um mesmo final. Vocês dançaram
o segundo andar
dessa cidade de montanhas? Aqui nas outras
montanhas mais ao norte - idênticos picos, a mesma
idade da explosão - dancei hip-hop entre garotos
de quinze anos
que crescem neste povoado
guardado por cães de caça e motorhomes
onde alguém deixa sobre a mesa
um vaso com rosas. Lá fora
há novas explosões, a medida
do canto e sua história - não as amoreiras -
falam de guerras, tão cruentas e eu
penso só o gesto
com que alguém preparou a mesa
o vaso e suas três rosas
- duas amarelas, uma vermelha - tanta delicadeza
em meio a residências transitórias.
26
Beije o futuro, como se beija toda
possibilidade ou a espera
disso que os dias trazem e levam. A cada
trecho percorrido, acaricia esse
amanhã possível para ver a maneira
como a folha de papel cai os sete
andares do edifício sobre o bar king sao. E é s
agora. Traslado
de nada a menos ainda e ao tempo
a consistência firme
dessa folha caindo, seu peso
ante o vazio que qualquer
manhã apresenta. Pouca
coisa além disso, seus olhos
- e os meus -
necessariamente abertos. E só.
ANDI NACHON
Tradução: Paloma Vidal, Rubens Figueirdo e Carlito Azevedo
in Inimigo Rumor 13
2º semestre 2002
Revista de poesia Brasil e Portugal
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Rui Pires Cabral
De regresso ao meu palácio adormecido, esta luz deve significar
que foste apenas uma das invenções da noitada. Tinha começado
[a chover
outra vez, todos os fogos estariam mortos se eu não tivesse trazido
[uma parte
das tuas mãos nos meus bolsos. Mas eu não me lembro de te ter dito
como é que as coisas funcionam para mim. À força de estar sempre
[tão calado
já não distingo nada por detrás da minha cara. Como é que te serviu
[o meu desejo
entre a desordem que fazíamos? O tempo era tão comprido nos
[meus sentidos
que eu poderia ter dito: quero ficar contigo para sempre. Ainda bem
[que as circunstâncias
não me levaram a dizer uma mentira.
Por enquanto ainda te reconheço
nos movimentos que faço, ponho a roupa no armário com a tua pele.
Mas não verei muito do dia que se aproxima, acho que já o gastei
[todo contigo
esta noite. Vai ser fácil encontrar nos esconderijos da música
um bom lugar para o sono. E contra isso, tu também não tens
[muitas hipóteses.
Rui Pires Cabral
música antológica
& onze cidades
Editorial Presença
colecção forma
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Yannis Ritsos
Há muitas solidões cruzadas diz em cima a em baixo
e outras no meio; diferentes a semelhantes, forçadas e impostas
ou como que escolhidas, como que livres mas sempre cruzadas.
Mas no fundo, no centro, há apenas uma solidão diz;
uma cidade vazia, quase esférica, sem quaisquer
anúncios luminosos multicores, sem lojas, sem motocicletas,
com uma luz branca, vazia, brumosa, interrompida
por centelhas de desconhecidos semáforos. Nesta cidade
habitam desde há anos os poetas. Caminham silenciosos de braços cruzados,
recordam factos imprecisos, esquecidos, palavras, paisagens,
estes consoladores do mundo, sempre inconsolados, perseguidos
pelos cães, pelos homens, pelos vermes, pelos ratos, pelas estrelas,
perseguidos até pelas suas próprias palavras, ditas ou não ditas.
Yannis Ritsos
Trad. de Custódio Magueijo
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quinta-feira, 11 de março de 2010
terça-feira, 9 de março de 2010
Pessoa
Au cours de formations et de stages, j'ai travaillé plusieurs fois sur ses textes, et j'ai longtemps eu envers lui une attirance et une forme de recul. Le recul venait de la part d'extraversion, éloignée de moi et particulièrement grande dans Ode maritime. Mais il était lié aussi au fait que je n'avais pas mesuré à quel point Pessoa est un auteur ésotérique. Il y a un mystère dans l'écriture d'Ode maritime. Tout en affichant un débridement incroyable de l'imaginaire et de l'inconscient, l'ode nous emmène vers l'impossible de la connaissance de l'être humain, et de soi-même.
Cela m'intéresse beaucoup, parce que nous vivons aujourd'hui dans le culte et l'exaltation de la raison. Le rejet de tout ce qui n'est pas de cet ordre me paraît un appauvrissement de l'individu tout à fait terrible. Dans une note, Jung écrit : "La surestimation de la raison a ceci de commun avec un pouvoir d'Etat absolu : sous sa domination, l'individu dépérit." Cela, on ne le dit pas assez. C'est pourquoi j'essaye de le dire.
Claude Régy sonde le "mystère" Pessoa
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quinta-feira, 4 de março de 2010
Qi Baishi
Qi Baishi and His Paintings | |
Qi Baishi (Ch'i Pai Shih) is one of the greatest Chinese painters. Chinese tradition places essences, character, and spirit above the simple faithfulness to appearances. Qi Baishi's paintings well represent the Chinese tradition, but in an innovative form and style. Though the art of Qi Baishi was originated from nature, which one can learn from his paintings of animals, insects, and flowers, he painted them in a way nobody else had achieved before. He once said, "The excellence of a painting lies in its being alike, yet unlike. Too much likeness flatters the vulgar taste; too much unlikeness deceives the world." Qi Baishi had developed his style over his life-long learning, studying, and innovation. His paintings were not matured until his late life.
He was born in Xiangtan, Hunan Province, on Jan. 1, 1864. His birthday was in 1863 based on the Chinese lunar calendar. His family was poor like most Chinese families and they lived on the cultivation of rice on a small piece of land. At seven, he learned about 300 Chinese characters his grandfather was able to teach. He only had one year formal education when he was eight years old. The tuition for the one year was paid using his mother's saving.
Qi Baishi's major activities are summarized below:
- 1877: When he was sixteen, he started to learn carpentering with Zhou Zhimei, a woodcarver.
- 1881: At 19, Qi Baishi married with Chen Chunjun (1863-1940).
- 1888: Qi Baishi started to learn painting with Xiao Xianghai, who was the finest portraitist in Xiangtan. Studied calligraphy and literature under Hu Qinyuan and Chen Shaofan, respectively.
- 1899: Qi Baishi became a student of Wang Xiangyi, who was one of the most influential scholars of the time.
- 1892-1901: Joined the Dragon Hill Poetry Society and the Longshan Poetry Society.
- 1902-1909: Five trips. He was invited by Xia Wuyi to Xi'an. He toured Beilin there, where there were over 1,400 stone tablets engraved with writings by China's finest masters of calligraphy. Later, he went to Beijing, the capital, with Xia Wuyi. He was then introduced to some big names of arts, such as the jinshi-degree scholars Zeng Xi and Li Ruiquan. Li Ruiquan tutored him in the script styles of Northern Wei dynasty steles. In 1905, Qi Baishi borrowed an album of seal impressions by Zhao Zhiqian, who had been a major pioneer of modern jinshi art. He also made a trip to Guilin in 1905. He traveled to Qinzhou with Guo Baosheng and others in 1907. They went on the trip to as far as Vietnam. Later, he traveled to Guangzhou, Hongkong, Shanghai, Suzhou, and Nanjing.
- 1917: Settled in Beijing. Qi Baishi met with Chen Shizeng. His relationship with Chen Shizeng is considered as one of major turning points of his career.
- 1919: Qi Baishi had a new concubine, Hu Baosheng from Sichuan. She was 18 years old.
- 1920: Lin Su compared Qi Baishi with Wu Changshi in his remark, "Wu in the south and Qi in the north may be considered a pair." Lin Su was an influential artist. Wu Changshi was the greatest living exponent of the Shanghai school of painting. The dramatist Qi Rushan introduced Qi Baishi to Mei Langang (1894-1861), who was a famed opera star.
- 1922: Chen Shizeng took Qi Baishi's paintings to an exhibition, featuring paintings by both Chinese and Japanese artists in Tokyo. All of his paintings were sold and two of his works were selected for public display in Paris.
- 1927: He started to teach traditional painting at the Beijing Art Academy, invited by the director Lin Fengmian. When the school changed its name to the Beijing Art College in 1928, Qi Baishi became a professor. He published his 'Jieshanyinguan Shicao', a collection of his poetry.
- 1933: Baishi Shicao, a collection of his poetry in eight volumes, was published. And he also printed a ten-volume seal album with cinnabar seal ink.
- 1937: The Sino-Japanese war broken. Japanese controlled Beijing and Tianjin. In protest, he locked his door and refused to see most guests. He posted a sign on his door, "Old Man Baishi has had a recurrence of heart sickness and has stoped receiving guests." Qi Baishi quit teaching at the Beijing Art College.
- 1940: His wife, Chen Chunjun, passed away.
- 1941: Qi Baishi officially married Hu Baozhu.
- 1944: Hu Baozhu passed away.
- 1945: Japan surrendered. Qi Baishi resumed the sale of his paintings and seals.
- 1946: He asked Hu Shi to write his biography. He hold one-man exhibitions of his paintings in both Shanghai and Nanjing, invited by the Shanghai Art Society and the All China Art Society, respectively. He met Chiang Kai-shek and was honored in a grand and solemn ceremony. Qi Baishi accepted Zhang Daofan as his student, who was Director of the All China Art Society.
- 1949: Qi Baishi was elected a member of the National Committee of the Chinese Federation of Writers and Artists and of the National Committee of the Chinese Artists' Association. Xu Beihong, Director of the Central Academy of Art, appointed Qi Baishi to the honorary professor.
- 1953: He was conferred the title "People's Artist" by the Central Cultural Ministry. He became Chairman of both the Chinese Panting Research Society of Beijing and the Chinese Artists' Association.
- 1954: Elected the Hunan province representative of the National People's Congress.
- 1955: East Germany's Academy of Art appointed him an honorary fellow.
- 1956: The World Peace Council granted their International Peace Award to Qi Baishi.
- 1957: Qi Baishi was named Honorary President of the Beijing Studio of Traditional Chinese Painting. And a film entitled "The Artist Qi Baishi" was made. Qi Baishi passed away on September 16, 1957.
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